Assim como grandes indústrias da Serra, parte das fábricas calçadistas do Rio Grande do Sul também retomou atividades nesta segunda-feira (13). O trabalho voltou a ser feito principalmente nas regiões dos Vales do Paranhana e do Sinos, onde o setor atua com mais força.
Muitas fábricas estavam paradas desde o fim de março, quando entraram em período de férias coletivas em função da pandemia de coronavírus. Agora, com o fim do recesso e a proximidade de reabertura do comércio no Estado, a produção foi retomada.
— A indústria só existe porque vai ter um comércio para vender seus produtos. A gente tem que preservar a saúde em primeiro lugar, mas há a questão econômica. Quem autoriza a abertura são as autoridades sanitárias — diz o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Haroldo Ferreira. A associação não tem o número exato de empresas e trabalhadores que voltaram ao trabalho.
O presidente lembra que as demissões já podem ser percebidas no setor — até agora, levantamento indica cerca de 3 mil trabalhadores desempregados —, o que faz com que as fábricas tenham que buscar alternativas para se reerguer.
— Muitas empresas fizeram redução de jornada de trabalho e salários para não demitir. Muitas ainda estão em férias coletivas e só voltam na próxima semana ou no começo de maio — completa.
Com o retorno ao trabalho, as fábricas buscam retomar os pedidos que estavam atrasados devido à paralisação, além de se prepararem para a nova data festiva: o Dia das Mães. A expectativa é de que, com as vendas do período, a indústria consiga recuperar parte das perdas dos últimos meses.
Ainda no início dos reflexos da pandemia, a Abicalçados fez uma cartilha com itens que devem ser observados pelas calçadistas durante o trabalho. Um deles é afastar trabalhadores do grupo de risco. Além disso, as fábricas devem adotar uso de máscaras e álcool gel, assim como medidas de distanciamento.
O presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias do Calçado e do Vestuário do Estado (FETICVERGS), João Nadir Pires, preocupa-se com trabalhadores de empresas menores.
— A situação toda é assustadora, mas entendemos que se a pessoa não trabalhar, não come. Estamos tentando orientar todos, inclusive aqueles que terão redução de jornada e salário. Mas nos preocupamos muito também com os pequenos ateliês, que prestam serviços para terceirizadas. Este trabalhador não vai ter muita saída — lamenta.
Medidas de prevenção
GaúchaZH conversou com fábricas que retomaram a produção nesta segunda. As três empresas consultadas garantiram que estão tomando medidas de prevenção para que a saúde dos trabalhadores seja preservada — o que é preconizado pelo decreto estadual que permitiu a abertura da indústria.
O Grupo Ramarim, que tem mais de 2 mil trabalhadores em Nova Hartz e Sapiranga, autorizou teletrabalho para parte dos funcionários que não trabalham na produção. Um manual enviado a todos contém informações sobre a covid-19 e formas de contágio e prevenção.
Na fábrica, a empresa passou a fazer medição de temperatura corporal de todos os colaboradores, que receberam máscaras de uso obrigatório. O distanciamento mínimo é de um metro entre todos e, para evitar aglomerações, os funcionários foram dispensados do ponto ao fim da jornada de trabalho.
A fábrica da Calçados Tabita, que conta com 220 trabalhadores em Igrejinha, também adotou medidas de prevenção. Os funcionários receberam máscaras e um tubo individual de álcool gel. Diariamente, o recipiente pode ser reabastecido na empresa e levado para casa, onde o produto é compartilhado com os familiares.
Os colaboradores também receberam óculos de proteção para evitar que as mãos entrem em contato com os olhos. Eles também foram orientados sobre a importância da higienização e do distanciamento.
Medidas semelhantes foram adotadas pela fábrica da Calçados Bibi, que reúne 420 funcionários em Parobé. Todos os trabalhadores têm a temperatura corporal verificada antes de iniciarem o trabalho e, se necessário, são encaminhados para consulta com um médico da empresa. Além disso, todos passarão a receber novas máscaras a cada início de semana. Pontos com álcool gel são encontrados junto a catracas e relógio do ponto.