Mais fácil perder do que ganhar credibilidade. Com essa avaliação, economistas projetam que somente a adoção de três medidas alinhadas recuperariam o grau de investimento do Brasil.
A organização política encabeçaria a lista, seguida do corte efetivo de gastos públicos e do aumento de receita promovido pela elevação de impostos. Mesmo no mais otimista dos cenários, a recolocação do selo de bom pagador no país, destacado na quinta-feira pela agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P), só viria a partir de 2017, segundo economistas consultados por Zero Hora.
- Correndo tudo certo, o Brasil resolvendo a crise política, o Joaquim Levy (ministro da Fazenda) ficando e conseguindo trabalhar da melhor forma possível, sem constrangimentos políticos e intromissões, em 2017 voltaríamos a ter alguma retomada de crescimento, mesmo que pequena - projeta o economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV) Marcel Balassiano.
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Antes de pensar em revisão para cima, o mercado torce, porém, para que não hajam novas para baixo - já que outras duas agências importantes, a Fitch e a Moody's, devem divulgar suas notas nos próximos meses. Na tentativa de sinalizar reação, especialistas sugerem mudanças na política adotada pelo Planalto, com a coerência do discurso de interlocutores da área econômica e a garantia de aprovação de projetos no Congresso.
- Um dos pontos citados pela S&P, que culminou com o rebaixamento, é a questão política. No curto prazo, se deve tentar resolvê-la. Está sendo notado o isolamento de Levy e sua perda de influência - aponta Balassiano.
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Ele cita divergências entre Levy e o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, mal vistas pelo mercado: enquanto o primeiro aposta no corte de despesas para promover o ajuste fiscal, o segundo quer aumento de receita e propôs, por exemplo, a volta da CPMF. Professor de Economia da UFRGS, Marcelo Portugal sugere mudanças na equipe ministerial.
- Tem de haver, primeiro, um sinal forte na formação da equipe. Em segundo, uma sinalização de corte de gastos e, depois, aumento de receitas onde é possível - avalia.
- Mas será duro do ponto de vista político e econômico.
Marta Sfredo: sócio provisório do clube da elite
Convencido de que a recuperação econômica passa pelo encolhimento de despesas, o governo federal deve adotar novas medidas de austeridade fiscal nos próximos meses - em agosto, anunciou, por exemplo, o corte de ministérios. Economistas defendem que o enxugamento se amplie e passe, também, pelos programas sociais:
- É preciso menos social e mais infraestrutura. A classe de renda mais pobre já foi amplamente beneficiada nos últimos três anos, e isso fez com que o governo se reelegesse. Agora, é a vez do empresário e da infraestrutura para que o país se readeque e retome o crescimento - diz o professor de Economia da PUCRS Alfredo Meneghetti.
Para fechar a conta, o aumento de receita por meio da elevação de impostos é tido como inevitável, já que somente a combinação de orçamento em elevação e despesa em declínio poderia reverter o déficit previsto para 2016 e elevar o grau de investimento brasileiro. A alta nas alíquotas pode começar pela Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre os combustíveis e passar, ainda, pelo Imposto de Renda (IR).
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