Mais uma queda da bolsa (0,55%) e a nova alta do dólar (fechamento em R$ 3,5374 nesta quinta-feira, depois de encostar em R$ 3,57 durante o dia) mostram que a crise política voltou a contaminar a economia. Desta vez, diga-se de passagem, mais por irresponsabilidade da oposição e omissão da base aliada do que por culpa direta do governo.
A sucessão de sabotagens ao ajuste fiscal ficou tão escancarada que pode se tornar contraproducente. É certo que o Planalto não se ajuda, mas oposicionistas de direito ou de fato ultrapassaram todos os limites do bom senso e da coerência política.
As menções à gravidade da crise, feitas na quarta-feira pelo vice-presidente Michel Temer e pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ajudaram a complicar o quadro de incertezas.Sem saber onde estará o fundo do poço e, menos ainda, se poderão voltar a içar o balde, as empresas tendem a investir menos e a demitir mais.
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Não há boas notícias à vista, mas é conveniente ponderar a profundidade das más. A maior cotação nominal do dólar na história recente do país é de outubro de 2002. O valor na época chegou a R$ 3,98.
Atualizado para valores de hoje pelo IPCA, ou seja, numa fórmula conservadora, equivaleria a cerca de R$ 9. Acrescido da inflação americana acumulada no período (33%), o valor saltaria para R$ 11,7. Ou seja, ainda estamos longe, em valores reais, do susto da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. Ao menos, no câmbio.
Isso não significa que a órbita do dólar não incomode. Até na ata do Banco Central (BC) sobre o futuro da alta do juro há uma nota de atenção sobre a decolagem da moeda americana e seus reflexos na inflação.
O mercado conta que a taxa de juro atual será mantida até o fim do ano, mas o próprio BC adverte que pode apertar o torniquete se o aumento de produtos estrangeiros, cotados em dólar ou com insumos importados pesar na inflação.
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Marta Sfredo: a crise política contamina a economia
Fragilidade do governo e sabotagem da oposição elevam incertezas nos negócios
Marta Sfredo
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