Quando saiu da faculdade de Relações Públicas, Paulo Dytz queria unir o sonho de trabalhar com som ao gosto por estudar marcas com profundidade. Não encontrou o que buscava em agências de publicidade, empresas de design ou como RP em corporações. A solução foi criar um segmento até então inédito, que chamou de sound thinking - o termo agora está prestes a ser patenteado por Dytz. Surgiu a B Sound Thinking.
- O tesão é ver o todo da marca. Identificar como ela se comunica e desconstruir tudo o que faz em termos de som - explica o sócio-fundador da empresa.
A principal diferença entre o sound thinking e o audio branding é que o segundo, bastante comum no mercado publicitário, funciona como uma consultoria e planeja a maneira como uma marca fala com seu público. São empresas de audio branding que normalmente pensam em jingles, vinhetas e spots de rádio para marcas. Como sound thinker, a B Sound Thinking deseja fazer mais: entender todo o tipo de som que uma empresa produz, seja em publicidade ou em pontos de venda, e regulá-lo para que seja mais bem recebido pelo público. Dytz, 36 anos, usa o exemplo hipotético de uma marca de calçados para explicar melhor:
- Há um tempo, minha mulher experimentou um sapato de salto alto e comentou com a amiga que o som do salto batendo no piso dava a ela uma sensação de poder. Imagina se conseguimos pensar no porcelanato necessário para produzir o melhor som, a reverberação do ambiente, com um pé direito alto, para tornar aquele som mais agradável. A experiência fica mais completa.
A empresa surgiu há uma década e se limitava a fazer produtos musicais para os clientes. Em 2009, Dytz começou a repensar sua atuação. Já sem os dois sócios que o acompanhavam no início, passou dois anos pesquisando e reestruturando a nova filosofia de trabalho. Em 2011, lançou o conceito de audio thinking. Logo, começou a fazer trabalhos para empresas como Tramontina, TIM, GM e Iguatemi. O projeto realizado com o shopping rendeu prêmios internacionais à empresa, como o segundo lugar no Áudio Branding Award 2013, no final de novembro passado, em Moscou, na Rússia.
Durante quase dois anos, a B Sound Thinking captou os sons de diferentes ambientes do shopping e, ao fim desse processo, identificou o que era mais desagradável para clientes e trabalhadores e criou um manual de práticas para o estabelecimento: comunicação por rádio foi banida (agora, seguranças utilizam fones de ouvido), carros de lixo ganharam novas rodinhas (e agora são bem mais silenciosos), limites foram estipulados para músicas nas lojas, regras foram criadas para que não se fale muito alto, as cancelas do estacionamento passaram a ter mensagens menores e mais claras.
Além disso, a empresa criou um software próprio, que permite aumentar ou diminuir os volumes de cada instrumento das músicas tocadas no ambiente. Assim, conectado a microfones que captam o som em tempo real no shopping, é possível neutralizar barulhos e amenizar ruídos. O programa chamou atenção e já é alvo de empresas de Portugal e Grã-Betanha.
O próximo passo da B Sound Thinking é mensurar os resultados do que produz. No caso do Iguatemi, conseguiu-se reduzir 3,5 decibéis no som médio do shopping - um "resultado impactante", avalia Dytz -, mas ainda não há dados de vendas, satisfação de clientes ou crescimento no número de visitantes.
VÍDEO: Paulo Dyzt fala sobre a B.Sound thinking
Sede aqui, negócios no mundo
A B Sound Thinking já teve 15 funcionários. Hoje, tem 10. A ideia é chegar a cinco.
Reduzir o quadro de empregados não significa fazer a empresa diminuir. O diretor Paulo Dytz explica que sua ideia é formar um "núcleo de inteligência", em que todos se envolvam nos projetos e contratem terceirizados para por o trabalho em prática. Para isso, é preciso criar uma rede de contatos:
- Acabaram as barreiras. Posso ter a empresa aqui em Porto Alegre e um gestor de projetos em Nova York, por exemplo, trabalhando em casos específicos.
Manter o escritório na capital gaúcha também é uma ideia clara do diretor. Mesmo que participe ativamente de encontros em outras cidades, principalmente em São Paulo, ele garante que se manter na cidade onde o negócio foi criado é importante e benéfico para o crescimento que planeja:
- Minha empresa é de Porto Alegre, e eu quero ser de Porto Alegre. Aqui tenho mais qualidade de vida, além de a mão de obra ser bastante qualificada e mais barata que em outros centros - explica.
O próximo grande projeto da B Sound Thinking é a reestruturação sonora da Petrobras. O primeiro passo, conta Dytz, foi estudar o nome da empresa. Junção dos termos petróleo e Brasil, a marca não tinha um padrão de som para seu nome. Em produtos oficiais, inclusive propagandas, a palavra era dita em alguns momentos com o E aberto ("Pétrobras") e em outros com o E fechado ("Pêtrobras").
Com o problema resolvido (o nome agora é falado com o E fechado), fez um estudo dos principais conceitos ligados à marca. Meses de estudo resultaram em algo simples: quatro palmas, em ritmo de samba, que vão ser usados como identidade sonora da Petrobras.
Para 2014, há ainda trabalhos com outras marcas no horizonte. Dytz empolga-se:
- Nossa perspectiva é muito boa.
Perfil
Ano de fundação: 2003
Localização: Porto Alegre
Número de funcionários: 10
Clientes: cerca de 150 empresas, como Petrobras, Iguatemi, Grendene, Boticário, Coca-Cola, Chevrolet e TIM
Faturamento 2013: não informado
Faturamento previsto 2014: crescimento de 20%