Em uma campanha exploratória impressionante, a OGX, petroleira do empresário Eike Batista, protagonizou, em dois anos e meio - de outubro de 2009 a maio de 2012 -, 55 anúncios de descoberta de petróleo ou declarações de comercialidade (jargão que indica, no setor de petróleo, que uma área pesquisada vai virar um campo produtor). A cada comunicado promissor, o mercado reagia imediatamente e a empresa acompanhava os saltos no gráfico de suas ações.
Um levantamento de todas as divulgações feitas pela OGX desde sua criação, em 2007, revela que foram mais de 105 comunicados oficiais. Metade deles apontava indícios de petróleo em suas áreas. Há uma semana, admitiu que a produção no campo de Tubarão Azul, na Bacia de Campos, principal aposta da companhia, deve cessar em 2014, dois anos após retirado o primeiro óleo. Outros três campos foram suspensos três meses após a declaração de comercialidade.
Grande parte das descobertas referia-se ao mesmo poço perfurado, apenas em estágios diferentes. A despeito disso, as ações subiam sempre que um desses "fatos relevantes", como são conhecidos os relatórios oficiais, era enviado à Bolsa de Valores e à Comissão de Valores Mobiliários (CVM, responsável pela fiscalização de mercado). Agora, o mercado financeiro parece dividido entre alternativas ruins: houve incompetência, ingenuidade ou má gestão?
- Não é plausível que uma empresa com tantas promessas de sucesso tenha se tornado um fracasso da noite para o dia - diz Ricardo Lacerda, sócio do banco BR Partners.
Alguns comunicados tinham tom eufórico. "A OGX é a prova de que vale a pena apostar na competência dos brasileiros e na riqueza e abundância dos nossos recursos naturais. Esses recentes sucessos vão pavimentar o caminho do nosso robusto crescimento e igualdade social. Viva o Brasil!", escreveu Eike em outubro de 2009, no fato relevante enviado à CVM sobre a descoberta no bloco marítimo da Bacia de Campos BM-C-43.
Até junho de 2012, quando teve de revelar o real volume do petróleo que jorrava de sua principal aposta, o campo de Tubarão Azul - um décimo do que apregoou -, o tom das informações que vinham da OGX era esse. Em janeiro de 2010, poucos meses depois de começar a furar os poços, Eike fez uma previsão mais do que otimista num documento ao mercado:
"Com os resultados de nossas perfurações até o presente, fomos capazes de revelar uma nova província no sul da Bacia de Campos e quebrar paradigmas (...). Agora nos preparamos para uma nova fase na história da OGX, que buscará atingir a produção de 1,4 milhão de barris por dia em 2019". Previa, em 10 anos, alcançar o resultado que a Petrobrás obteve após cinco décadas.
Derrocada da OGX
Anúncios de descobertas de petróleo inflaram projeções da empresa de Eike Batista
Há uma semana, empresário admitiu que produção no campo de Tubarão Azul, principal aposta da OGX, deve cessar em 2014
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