O rebaixamento da perspectiva do rating do Brasil pela agência de classificação de risco Standard & Poors (S&P) azedou o humor dos investidores no país. A Bolsa de São Paulo (Bovespa) recuou ao seu menor nível desde 7 de outubro de 2011 e o dólar voltou a subir, para R$ 2,1330 no mercado à vista do Banco Central (BC).
De nada adiantou as bolsas internacionais terem fechado com altas consistentes ontem. Na quinta-feira à noite, a S&P mudou de estável para negativa a perspectiva da nota de longo prazo da dívida do Brasil, citando "perda de credibilidade" do governo, que dá "sinais ambíguos" sobre a condução da política econômica.
É a primeira ameaça de rebaixamento do rating desde 2008, quando o país obteve grau de investimento, selo de bom pagador. Petrobras e Eletrobras, que também sofreram revisão em baixa, caíram fortemente.
- A S&P só mostrou o que todo o mundo está vendo e falando. Teve de vir a agência para mostrar ao governo que a economia não vai bem, para ele acreditar no que todo o mundo já comenta - afirmou Pedro Galdi, chefe de investimento da corretora SLW.
Segundo o coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV), William Eid, a tendência é de que o real siga em queda frente ao dólar, com a cotação podendo chegar a R$ 2,18 ou R$ 2,20. E o mercado de ações, devido ao fato de "sobreviver de capital estrangeiro", deverá sentir alguns efeitos.
- O que eles estão dizendo é: aqui, você não tem política econômica consistente nem planos de longo prazo. A bolsa, que já não andava bem, vai sofrer - projeta o especialista.
Eid lembra, porém, que a redução do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) em aplicações de renda fixa pode ajudar a abafar a rejeição provocada pela ameaça de rebaixamento:
- Do ponto de vista de fluxo de investimentos, é claro que há prejuízo, mas a isenção de IOF ainda é um grande atrativo.
No entanto, o especialista em economia internacional Antonio Corrêa de Lacerda prevê poucas consequências práticas da ameaça de rebaixamento:
- Na verdade, os investidores já conhecem um pouco mais a economia brasileira. Isso ameniza um pouco.