Cultivar o hábito de tomar chimarrão está cada vez mais caro. Às vésperas da semana mais importante para os tradicionalistas gaúchos, a Farroupilha, o preço da erva-mate já acumula um aumento de 12% em um ano, segundo o índice de preços ao consumidor do Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas (Iepe) da UFRGS.
As causas começam na lavoura, passam pela indústria e se traduzem em um preço médio de R$ 6 por quilo. A projeção, no entanto, não é nada animadora: o custo pode subir mais 10% até o fim do ano segundo o Sindicato da Indústria do Mate do Estado do Rio Grande do Sul (Sindimate-RS), o que significaria uma alta acumulada de 22% em 2012.
O preço varia conforme a marca e a região do Estado. Na capital do Chimarrão, Venâncio Aires, no Vale do Rio Pardo, por exemplo, os consumidores ainda encontram pacote de um quilo por R$ 3,50. Já em Cruz Alta, no Noroeste, o produto chega a custar R$ 7. Em Porto Alegre, segundo dados do boletim econômico da UFRGS, o preço médio da erva em agosto é de R$ 6,16.
A alta amarga o chimarrão do comerciante Sérgio Almeida. Acostumado a tomar a bebida pelo menos quatro vezes por dia, o patrão do CTG Estância Alegre, de Santa Cruz do Sul, consome, em média, sete quilos de erva-mate por mês. Com o aumento do preço do produto, calcula que está gastando em torno de R$ 12 a mais nas compras mensais no supermercado.
- A gente sente no bolso, mas não deixo de comprar e muito menos paro de investir na erva de melhor qualidade - conta Almeida.
A atitude reflete a situação geral do mercado. De acordo com o presidente do Sindimate-RS, Alfeu Strapassom, o consumo de erva-mate vem crescendo no Brasil e no mundo, enquanto a produção diminuiu.
- A seca que enfrentamos no último ano, aliada ao frio intenso em alguns momentos do inverno, fez com que a produção de erva-mate e a qualidade diminuíssem. Além disso, o aumento de 14,78% no salário para os trabalhadores de ervateiras encareceu ainda mais a produção - explica Strapassom.
Conforme o engenheiro agrônomo Ilbandro Barreto de Melo, da Emater, a estiagem já é responsável pela perda de 8% das folhas de erva-mate. Com os períodos prolongados sem chuva, estima que o prejuízo possa chegar a 12%.
Posto recuperado
Berço da tradição de tomar chimarrão, o Rio Grande do Sul já perdeu o posto de maior produtor de erva-mate do Brasil. Em 2009, segundo o IBGE, o Paraná foi responsável por 71% da produção nacional. Mas, segundo a Emater, em 2011 o RS recuperou a frente e produziu 60% da matéria-prima do chimarrão.
Com uma área plantada que chega a 30 mil hectares em 267 municípios gaúchos, a produção de erva-mate mobiliza atualmente 206 empresas e gera cerca de mil empregos diretos no Rio Grande do Sul.
Chimarrão amargo
Preço da erva-mate acumula alta de 12%
Número reflete impacto da seca e aumento do consumo. Custo pode subir mais 10% até o fim do ano
Vanessa Kannenberg / Uruguaiana
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