Imagine só a cena: em algum lugar perdido no meio da imensa floresta amazônica, mora um dos homens mais criativos do mundo. Com diversos prêmios concedidos por respeitadas instituições internacionais e carimbos de 31 países em seu passaporte, esse brasileiro vive conectado 24 horas por dia, fala em impacto econômico como se fosse um grande homem de negócios, usa jargões do vocabulário de empresários, dá aula sobre desenvolvimento sustentável, anuncia estratégias para negociar e exportar os produtos de sua tribo e discute a educação do futuro para o mundo ao lado de respeitados líderes do Exterior. E, acima de tudo, faz da tecnologia uma das armas mais eficazes para preservar suas terras e a cultura dos paiter suruís, 1.350 índios que vivem em uma reserva de 249 mil hectares espalhada entre Rondônia e Mato Grosso. E que levam ao pé da letra o significado de Paiter em sua língua: o povo verdadeiro, nós mesmos.
O cacique Almir Narayamoga Suruí, 37 anos, é esse brasileiro. Escolhido ao lado de apenas dois outros homens do país - o bilionário Eike Batista e o publicitário Nizan Guanaes - para a lista dos cem homens mais criativos do mundo pela revista norte-americana Fast Company e eleito pela revista Época um dos brasileiros mais influentes, o índio encontrou no mundo hi-tech uma possibilidade de preservar a cultura, a tradição e a história de seu povo que, em 40 anos, viu sua população minguar de 5 mil membros para a atual por conta de doenças e disputas.
A brincadeira mais séria do cacique, há 20 anos à frente da tribo, começou em 2007, mais de 10 anos depois de ter tido o seu primeiro contato com a informática em Rondônia. Foi quando o pai de cinco filhos e sucessor caçula, entre sete filhos, de seu pai na liderança dos Suruí teve a ideia de propor uma parceria ao Google para tentar reduzir e denunciar a devastação da floresta. Na sede de San Francisco, na Califórnia, conseguiu mais do que um acordo. Veio o apoio para mapear os focos de devastação dos garimpeiros e madeireiros ilegais. Equipamentos desembarcaram na tribo e também profissionais para treiná-los.
Tecnologia não mata a cultura indígena
É no Google Earth que eles abastecem dados sobre a floresta, no You Tube que gravam depoimentos sobre os desafios a enfrentar e marcam no GPS as áreas ameaçadas. E, em minutos, os hoje 30% da tribo que usam a informática têm resposta instantânea de qualquer lugar do mundo.
Munido de um computador da Apple, aproveitando conexões com satélite e smartphones, Almir tem, por meio da internet, de seus textos e fotos, as armas para ir além em sua luta. Desafio que, para ele, não mostra qualquer contradição entre o mundo tecnológico e a preservação da cultura Suruí, um dos 200 povos indígenas do país e que teve o primeiro contato com o homem branco em 1968:
- A tecnologia não mata a nossa cultura, porque, atrás da tecnologia, está o nosso povo, planejando o nosso futuro. Sabemos muito bem a razão de estarmos usando a tecnologia, sabemos como isso gera economia mesmo. As pessoas lutam por qualidade de vida e isso, para nós, é ter dignidade para viver, para manter a nossa cultura e a nossa floresta. É claro que a tecnologia faz coisas ruins, mas não sozinha, quem faz isso são as pessoas que estão por trás.
Um cacique hi-tech
Líder que levou Google a tribos suruís representa esperança para os povos indígenas brasileiros
Almir Narayamoga Suruí foi escolhido para lista dos cem homens mais criativos do mundo
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