
Necessidade, oportunidade, sonho. Não importa o motivo: o fato é que muitas mulheres apostaram no empreendedorismo como caminho para se reinventar na pandemia. Mais de um ano depois da chegada do coronavírus ao Brasil, há uma parcela de empreendedoras que tem acompanhado seus negócios deslancharem.
— Muitas abriram empresas focando num público específico, na pegada digital. Isso é imprescindível para ver o negócio crescer, ainda mais agora. As mulheres estão entre as mais afetadas. Empreender com criatividade foi a única saída — avalia Silvana Bastian, presidente da associação de mulheres de negócios BPW Porto Alegre.
Dados de um levantamento do Sebrae realizado no ano passado em parceria com a Fundação Getulio Vargas mostram que elas utilizam com mais destreza as ferramentas digitais – quase 70% das empreendedoras vendiam ou passaram a vender online na pandemia, contra 63% dos homens. Mas é preciso ir além.
Diretora de sustentabilidade da Odabá – Associação de Afroempreendedorismo, Onilia Araújo pondera que, independentemente do tipo ou do tamanho do negócio, trabalhar com metas e objetivos é essencial para ver uma boa ideia se tornar rentável:
— O tal "plano de negócios" pode assustar, porque, muitas vezes, não há tempo para estruturar. Por isso, traçar um objetivo inicial, focar no que quero vender, ajuda. Sem metas não há organização, e empreender também é resultado — defende.
A seguir, conheça histórias de mulheres que se jogaram no empreendedorismo na pandemia.
Macramê rentável
Ana Kühn cresceu devorando revistas com dicas de "faça você mesmo". Na vida adulta, o gosto pelos trabalhos manuais virou hobby – e até uma espécie de terapia para desestressar. Mas, em 2020, o que era apenas uma atividade prazerosa também se transformou em negócio. Formada em Educação Física, a personal trainer de 34 anos viu a agenda de aulas minguar com a pandemia. E daí resolveu dar ouvidos aos comentários de pessoas próximas: "Isso é tão lindo, por que não coloca para vender?".

— Foi uma transição natural impulsionada pelos amigos. Com a ajuda deles, tive coragem de tentar algo novo, olhar para meus produtos de outro jeito. No início da pandemia, fiquei perdida — conta.
Com frio na barriga, a empreendedora começou a compartilhar sua produção de velas e vasos de cimento nas redes sociais. Lançou o perfil oficial da (a)mar no Instagram em junho do ano passado e viu, aos poucos, a marca crescer. Também se aperfeiçoou em outra técnica pela qual é apaixonada: o macramê, uma arte de tecelagem manual. Hoje, produz, em média, oito peças por semana entre painéis e suportes para clientes de todo o país. Mas ser "eupresa" não é nada fácil:
— O retorno financeiro não é imediato. Precisamos ter persistência e organização. Empreender também é resistir, como tudo na vida de uma mulher.
Reinvenção aos 58
Márcia Fernandes Carneiro é educadora física de formação, mas seu espírito empreendedor sempre falou mais alto. Desde 1989 se dedica à moda: abriu uma loja de biquínis, investiu na venda de roupas e, nos últimos 20 anos, apostou na comercialização de peças diretamente para as clientes. Até que veio a pandemia, e o chão de Márcia desapareceu. Impossibilitada de manter seu formato de negócio, precisou se reinventar. De supetão, passou a produzir brigadeiros caseiros para garantir as contas em dia. Depois do susto, respirou, analisou o cenário e se desafiou a aprender uma nova técnica aos 58 anos: a arte de desenhar letras. Em julho do ano passado, lançou nas redes sociais a marca We Love Lettering.

— Sempre gostei de pintar e me caiu a ficha. Ainda mais agora que está todo mundo em casa, querendo personalizar o seu cantinho. Fiz um curso e me joguei — diz Márcia. — Precisava do retorno financeiro imediato, não deu tempo de fazer um plano de negócios. Acabei usando a minha experiência e criatividade como empreendedora para deslanchar.
Hoje, ela vê decolar a venda de placas, tábuas, caixas decoradas, relógios e ecobags. Sua marca registrada são as peças multicoloridas e os florais – no último Dia das Mães, passou de 200 itens vendidos. Agora, o foco é se especializar no lettering em paredes:
— Não fico parada esperando acontecer, sigo procurando ser cada dia melhor. Minha casa se transformou num ateliê. Nunca imaginei essa virada de carreira agora, neste momento de vida, mas se reinventar faz parte — conta.
- @welove_lettering
- WhatsApp: (51) 99819-5158
Mãe de negócios
Assim como tantas outras mães, Faheana Thonnigs viu a rotina virar de cabeça para baixo quando as escolas fecharam em razão da pandemia. A analista de mídias sociais de 29 anos precisou ficar em casa para dar conta do cuidado e dos estudos de Helena, 11 anos, e Esther, seis. E a performance no emprego, é claro, ficou comprometida. Faheana decidiu que era hora de mudar de rumos: tirar do papel o sonho de lançar uma loja de brinquedos. A Therna estreou no Dia das Crianças.
— Postava atividades que fazia com as gurias e muitas mães pareciam curtir. Achei que era um caminho, criei coragem e fui — recorda ela.

O destaque do catálogo são as caixas criativas e as peças em madeira. Duas vezes por semana, a empreendedora se dedica ao desenvolvimento dos produtos e, nos demais, tenta dar conta do site, das redes sociais, de atender o cliente e por aí vai, conta:
— Não sabia muito da área. Busquei cursos para me dar um norte. Queria fazer as coisas corretamente para pensar a longo prazo. Faço tudo mesmo, não tem romance algum, trabalho mais. Mas estou feliz com o retorno.
- @___therna
- lojatherna.com
- WhatsApp: (51) 98943-9010
Jalecos com história

Em 2015, quando a amiga Dhaiany da Silva Soares (de branco, na foto abaixo) se formou em Medicina, Alyne Garcia Jobim (de vermelho) brincou que ela precisava de um jaleco que revelasse sua história.
— Falei que ela tinha que achar uma roupa mais linda e poderosa, não aquele jaleco sem nada. Foi da boca para fora (risos), mas ela me cobrou o presente cinco anos depois — recorda Alyne, 37 anos.
Quando Dhaiany comentou num grupo de médicos negros sobre a ideia e viu que muitos se interessaram em adquirir uma peça, ligou para Alyne. Ela, então, fez um primeiro modelo. Resultado: a foto rodou por grupos nas redes sociais e, da noite para o dia, passou a receber pedidos:

— Minha ideia era um jaleco com referências afro. É sobre autoestima, resistência.
Como a pandemia afetou diretamente seu trabalho como gerente comercial, Alyne apostou em uma transição de carreira focada no empreendedorismo.
A mudança deu medo? Claro que sim, mas ela não se arrepende de ter virado a chave.
Buscou consultoria na Odabá Associação de Afroempreendedorismo e, em dezembro do ano passado, lançou a marca Iwosan.
- @lojaiwosan
- WhatsApp: (51) 99363-0352
Casa fashion
Amigas de infância, Laura Rinaldi e Maria Eduarda Meneghini Napoleão falavam sobre abrir um negócio juntas desde 2019. E foi no ano seguinte, em plena pandemia, que a dupla decidiu tirar do papel o sonho antigo: em dezembro, nasceu oficialmente a Casa Mizta. O cenário de instabilidade causou apreensão, mas, por outro lado, consolidou o digital como plataforma de compra e forçou uma relação ainda mais íntima com o lar – e isso fazia todo sentido para o negócio delas.
— As pessoas ficam mais em casa, e o nosso business, mais em voga. Queríamos entregar produtos diferenciados para o lar. Também aprendemos a ser enxutas. Não temos showroom, o estoque é em casa, não pensamos em loja física tão cedo — conta Duda.

Os queridinhos do catálogo são os jogos de cama e as almofadas. As peças são criadas pela dupla, com pegada exclusiva e de luxo. A marca gerou interesse nacional: fizeram uma campanha com a Westwing, um dos maiores clubes de compras da América Latina, estão em negociação com um marketplace e acompanham a empresa crescer 15% ao mês.
- @casamizta
- casamizta.com.br
- WhatsApp: (51) 98900-8778