Eu sou um sujeito muito ordinário. Não ordinário no sentido de vulgar, mas ordinário no sentido de comum. Se algum grande escritor fosse me descrever, não teria o que falar além de quatro linhas. E mesmo porque só meu nome completo ocupa uma linha inteira. Morro de inveja daquelas descrições como a de Capitu ou a de Dom Casmurro. Morro de inveja de pessoas com olhares oblíquos, sorrisos misteriosos ou gestos contidos e calculados. No meu caso eu seria um figurante em uma obra de literatura, daqueles que o autor só descreve fisicamente, e geralmente tem algum defeito como "manca da perna direita" ou "tem um cacoete de piscar os olhos demoradamente o tempo todo".
Como descrever
A mocinha da comédia romântica
Nem Verissimo com as suas geniais descrições conseguiria transcrever com fidelidade os longuíssimos momentos em que ela fica séria, olhando para um ponto fixo