As grifes Dior e Palomo Spain encerraram, nesta segunda-feira (13), a primeira Semana de Moda de Paris em formato digital. Ambas trouxeram a predominância de motivos florais em suas coleções masculinas, uma maneira de celebrar a primavera que não foi vivida devido ao confinamento.
— Esta coleção é a primavera que não tivemos este ano, que tivemos que olhar pela janela — resume o estilista espanhol Alejandro Gómez Palomo na introdução de seu vídeo gravado em Madri.
Como todas as marcas convidadas para a Semana de Moda masculina, a dele, a popular Palomo Spain, lançou sua nova coleção para a próxima primavera-verão de forma virtual, após a pandemia forçar o cancelamento dos desfiles em Paris.
A Dior fez o mesmo com um vídeo protagonizado pelo pintor Amoako Boafo, de origem ganesa - cujo trabalho inspirou o diretor artístico Kim Jones a criar uma coleção que combina o sportswear com as técnicas de alfaiataria da maison histórica.
Modelos negros na Dior
Formado em Viena, Boafo explora a percepção da identidade negra e da masculinidade em suas telas, que Jones descobriu em um museu de Miami.
— Foi uma verdadeira paixão artística — diz o comunicado da grife sobre o desfile.
O estilista britânico apresenta uma coleção marcada por elegantes shorts e camisas delicadas com estampas florais, combinadas com sandálias e meias, que foram desfiladas por modelos negros.
A empresa foi alvo de críticas na semana passada por sua "falta de diversidade", porque o vídeo em que apresentava sua coleção de alta-costura feminina mostrava apenas mulheres brancas.
Os retalhos de Palomo Spain
Os modelos carregam flores de caule longo neste vídeo gravado em Londres e Gana, elemento que inunda a coleção de Palomo Spain, feita a partir de pedaços de materiais nobres como seda selvagem e veludo, que ele praticamente "esquecera" no ateliê.
— Não conseguimos comprar um único tecido, com todas as fábricas fechadas (devido ao confinamento) e a situação também não podia ser desperdiçada — disse à AFP o estilista espanhol.
No total, são 15 looks criados "não com a intenção de vender e vender, mas como uma reflexão sobre os tempos em que vivemos", acrescentou.
— Queríamos voltar à origem de tudo e lembrei que o que me faz amar a moda é a costura, neste mundo cheio de streetwear — disse.
Seus vestidos de noite pretos e azuis e até seu vestido de noiva se aproximam da alta-costura mais do que nunca, como se fossem para o tapete vermelho.
Além disso, muitas flores silvestres emergem de suas criações, uma metáfora da pandemia, segundo Gómez Palomo. Com o confinamento, "a natureza voltou ao seu lugar. O céu está limpo e as papoilas e margaridas cresceram entre os paralelepípedos. Um universo selvagem no meio de algo feio", resumiu.
As apresentações virtuais desta segunda-feira encerram oito dias de alta-costura, uma experiência que decepcionou os críticos e frustrou muitos estilistas, dada a dificuldade de substituir a magia dos desfiles.
"Devolvam-me a passarela", clamou Vanessa Friedman, crítica do New York Times, considerando a opinião de muitos especialistas que enfatizaram a natureza experimental dos vídeos.
A indústria está confiante de que a próxima Semana de Moda de Paris, marcada para o final de setembro, será realizada novamente nas passarelas, embora seus organizadores tenham admitido que tudo vai depender da evolução da pandemia.