
Com a chegada do inverno, aumenta ainda mais a nossa vontade de ficar aconchegada debaixo do cobertor, assistindo a um filme ou maratonando nossa série favorita, não é mesmo? Mas um questionamento frequente que recebo é, justamente, sobre comer enquanto estamos deitadas ou comer muito perto da hora de dormir. Será que tudo bem ou tem algum problema?
Estamos criando hábitos tardios: com o excesso de horas de trabalho somado a muito tempo de deslocamento na cidade, chegamos em casa mais tarde, mais cansadas e estressadas. Isso faz com que a gente acabe ficando acordada por mais tempo, o que contribui para comermos mais tarde também.
A digestão é um processo autonômico, ou seja, nós não somos capazes de controlar conscientemente o processo e, por isso, não há necessidade de estarmos acordadas para que aconteça. Mas isso não significa que não haja considerações importantes a serem feitas sobre esse hábito.
Para além do desconforto
O primeiro ponto a destacar é o desconforto, já possivelmente conhecido pela maioria de quem está lendo - como a azia (sensação de queimação) ao deitarmos após uma refeição. Isso ocorre porque parte do conteúdo do estômago volta para o esôfago, irritando o órgão e causando náusea e indigestão, condição chamada de refluxo. Isso deve ser evitado, pois a parede do esôfago não foi feita para suportar a acidez do conteúdo do estômago, e toda vez que o conteúdo estomacal volta para o esôfago, gera lesão na mucosa que, a longo prazo, pode desencadear doenças mais graves.
Outro fator importante refere-se a pressão sanguínea que, durante a noite, diminui naturalmente. Em um estudo que analisou a variação da pressão arterial conforme o horário da última refeição do dia, os pesquisadores identificaram que essa diminuição fisiológica e importante da pressão arterial durante a noite não ocorre quando nos alimentamos duas horas, ou menos, antes de dormir.
Para pacientes com doenças cardiovasculares, histórico de doenças relacionadas à pressão arterial na família e presença de outros fatores de risco (como obesidade, tabagismo, sedentarismo), o cuidado com o horário da última refeição do dia deve ser maior.
Se você quer emagrecer
Por fim, se você está em um processo de perda de peso, deve ficar atenta ao horário da última refeição do seu dia. O nosso corpo “queima” gordura à noite e comer muito tarde, logo antes de dormir, pode inibir esse processo, dificultando o processo de emagrecimento. Existem algumas evidências, entretanto, que sugerem que comer um lanchinho antes de ir para a cama pode ajudar a aumentar a saciedade e a comer menos no dia seguinte.
Não podemos esquecer que, para o emagrecimento acontecer, é necessário garantir horas adequadas de sono. Por isso, talvez seja melhor diminuir o intervalo entre a refeição e a hora de deitar para garantir mais horas de sono do que comer tarde, ficar horas acordada “esperando” dar um intervalo mais adequado, mas se privar de um tempo precioso de sono. Tudo precisa ser avaliado individualmente, conforme a tolerância e os hábitos de cada pessoa.
Se você não notou nenhum efeito colateral negativo ao comer antes de dormir, está tudo bem. É mais importante se preocupar com a qualidade e a quantidade dos alimentos consumidos no dia todo do que a exatidão do horário e intervalos das refeições.
Quem sabe seja bom rever seus hábitos para melhorar ainda mais a sua saúde?
Raquel Lupion é formada em Nutrição e Educação Física, tem especialização em Nutrição Clínica e Mestrado em Ciências do Movimento Humano. Sua motivação é promover um estilo de vida saudável, fugindo de radicalismos e tentando encontrar o caminho do meio entre o que é necessário e o que é prazeroso. Na vida profissional, divide seu tempo entre atender em consultório, dar aulas de yoga, palestrar e ministrar cursos. Escreve semanalmente em revistadonna.com.