Passar o sangue da menstruação no rosto. Sim, essa prática gera reações das mais variadas. Você pode estar no time que fez cara feia e teve calafrios só de imaginar como seria, ou integrar o grupo que encara o procedimento como um ritual de reconexão com o corpo — além de trazer benefícios para pele. E há, ainda, as mulheres que nunca ouviram falar no tema, mas ficaram curiosas para saber por que alguém decide fazer algo tão incomum. O assunto repercutiu nas redes sociais após uma postagem feita há poucos dias pela influenciadora Luisa Moraleida, de 25 anos, sobre sua "máscara de menstruação".
Em um texto publicado junto de fotos com sangue espalhado pelo rosto, a jornalista explica que é possível ter uma "pele de bebê" após realizar a prática. Ela afirma que a menstruação é um fluido "regenerador, rejuvenescedor e fonte riquíssima de minerais e nutrientes". Luisa também faz referência a um processo de "resgate da ancestralidade" e menciona o ritual de "plantar a lua" — prática de "fertilizar o solo com gratidão e respeito". Ou seja: lançar o sangue menstrual na terra.
Assim como a influenciadora, outras mulheres chamaram atenção para o uso da máscara de menstruação nas redes redes sociais nos últimos tempos. Uma delas é a escritora Demetra Nyx, que expõe fotos e vídeos com sangue pelo rosto e pelo corpo, assim como a australiana Yazmina Jade. Segundo a ginecologista Carolina Melendez, médica que atua com uma abordagem natural, é possível identificar uma busca maior das mulheres nos últimos anos por retomar práticas ancestrais para se reconectar com a natureza e sua própria essência, e isso passa por mudar a perspectiva do seu corpo.
— Via de regra, todas as mulheres sangram. Mas isso, às vezes, é visto como uma vergonha, algo a ser escondido, com nojo, uma visão negativa de algo que é fisiológico. O que vejo nesse movimento são mulheres se reaproximando da sua maneira natural de viver — explica a ginecologista. — Quando falamos de usar o sangue menstrual para algo, tem esse mito, esse tabu de que sangue é sujo, é nojento, não pode encostar na mulher quando está menstruada. Passamos praticamente 30 anos da vida menstruando uma vez por mês. Imagina que inferno passar todos os meses por isso odiando o processo?
Ainda de acordo com a médica, existem relatos históricos de povos da América sobre rituais em que a menstruação é vista como um elemento sagrado. Seria essa a origem da prática de lançar o sangue na terra, de usar o fluido para passar no corpo, fazer pinturas, traçar conexões com as fases da lua ou com as estações, de criar um paralelo dos ciclos femininos com a natureza cíclica. Inspiradas na corrente do Sagrado Feminino, essas mulheres promovem um resgate desses cultos ancestrais. Porém, é importante frisar: sobre os benefícios para a pele, não há comprovação científica.
— O sangue menstrual não é sujo, ele faz parte do organismo. Não existe nada na ciência comprovando se ele faz bem ou mal para a pele especificamente. O que se sabe é que o tecido endometrial tem um potencial imunológico e regenerativo muito acentuado, ali se encontram tipos específicos de células-tronco. Como prática ritualística, pode ser interessante. Sempre pergunto o que faz sentido para a mulher. Não vamos para a igreja acender vela? Não rezamos, temos as nossas crenças? Essa é uma crença, um ritual.
A dermatologista Juliana Boza concorda que não há estudos indicando o uso de sangue menstrual como um caminho para deixar a pele saudável, mas questiona sobre a segurança do procedimento, já que os riscos são desconhecidos por falta de pesquisas. Diretora da secção gaúcha da Sociedade Brasileira de Dermatologia, a médica identifica uma popularização do assunto nas redes sociais, embora desaconselhe a prática.
— Esse sangue passa pela vagina, que é colonizada por fungos e bactérias. Como não há comprovação científica, não podemos descartar completamente a chance de algum processo infeccioso. Toda a vez que aplicamos algo na pele, há estudos para ver a absorção, a segurança. O sangue não é um meio estéril — avalia a dermatologista.
Se a mulher prefere o uso de produtos com pegada mais natural, a indicação de Juliana são aqueles com ativos como vitamina C, chá verde, ceramidas, camomila e aloe e vera. E nada de sair fazendo receita de máscara caseira com itens de cozinha, ela alerta:
— Há muitas máscaras prontas com ativos específicos para os tipos de pele. Há um cuidado na hora do preparo, há um estudo por trás da fórmula, da combinação de componentes. (No caso da) própria argila, que está presente em algumas das máscaras, há estudos respaldando o uso. Preparações caseiras podem aumentar o risco de alergia.
Quer entender melhor como funciona o ritual? O jornal norte-americano New York Post publicou, em seu canal do YouTube, um vídeo que apresenta o processo (em inglês).