Os patrimônios culturais imateriais da humanidade são práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas que as comunidades e, em alguns dos casos, os indivíduos, reconhecem como parte integrante da sua cultura.
Tradições e expressões orais; expressões artísticas, práticas sociais, rituais e atos festivos; e práticas relacionados à natureza e técnicas artesanais tradicionais são alguns dos requisitos para a Unesco identificar esse possível patrimônio. No entanto, não é necessário o reconhecimento da instituição para o uso deste título.
Assim, só podem ser consideradas patrimônios as expressões e manifestações culturais que geram um “sentimento de identidade e continuidade” para as comunidades locais. Os produtos alimentares, bem como os objetos e conhecimentos usados na produção, transformação e consumo de alimentos, têm sido identificados como objetos culturais portadores da história e da identidade de um grupo social.
Entretanto, e mais recentemente, a Unesco tem incluído em sua "Lista representativa do patrimônio cultural imaterial da humanidade" diversas comidas, saberes e práticas alimentares.
Pelo mundo, a dieta mediterrânea, refeição “à moda francesa”, a gastronomia tradicional mexicana da região de Michoacán, o pão de gengibre do norte da Croácia, e o Washoku, sistema alimentar e culinário tradicional dos japoneses, são alguns desses exemplos.
Mas e no Brasil, o que podemos encontrar nessa lista?
OFÍCIO DAS BAIANAS DE ACARAJÉ
O ofício das baianas é uma prática tradicional de produção e venda, em tabuleiro, das chamadas “comidas de baiana”, ligadas ao culto dos orixás, como o acarajé. As baianas de acarajé misturam temperos, como diferentes tipos de pimentas, azeite de dendê, quiabo, feijão, camarão seco e gengibre para fazer iguarias como acarajé, abará, cocadas, bolos, entre outros tantos pratos típicos.
O acarajé, por exemplo, é um bolinho de feijão fradinho, cebola e sal, frito em azeite de dendê, com origem africana, vinda com os escravos durante a colonização do Brasil. E o acarajé também tem sentido religioso: é comida de santo nos terreiros de candomblé, ofertada aos orixás, principalmente, a Xangô e sua mulher, a rainha Oiá.
PRODUÇÃO ARTESANAL DOS QUEIJOS DE MINAS GERAIS
Em 2002, o queijo do Serro foi reconhecido como patrimônio cultural de Minas Gerais. O modo de produção artesanal de queijo a partir do leite cru é um traço marcante da identidade cultural das regiões serranas de Minas Gerais (Serro e Serras da Canastra e do Salitre/Alto Paranaíba).
Cada região tem um modo próprio de fazer, expresso na forma de manipulação do leite e no tempo de maturação (cura), mas constituem aspectos comuns o uso de leite cru e a adição do “pingo”, um fermento láctico natural recolhido a partir do soro que drena do próprio queijo.
QUEIJO ARTESANAL SERRANO DE SANTA CATARINA E RIO GRANDE DO SUL
Fabricado com leite bovino, em pequena escala, exclusivamente em estabelecimentos rurais dos campos de altitude da região serrana de Santa Catarina, e dos Campos de Cima da Serra, no Rio Grande do Sul. Sua produção é realizada principalmente por pecuaristas familiares, e constitui sua principal fonte de renda. O modo de fazer do queijo serrano é uma prática profundamente enraizada no cotidiano dessas famílias produtoras.
A PRODUÇÃO DE DOCES TRADICIONAIS DE PELOTAS, NO RIO GRANDE DO SUL
Uma prática coletiva enraizada no cotidiano de grupos sociais. Os bens inventariados foram os doces de Pelotas, subdivididos em doces finos - ou de bandeja, como o quindim, olho de sogra, pastel de Santa Clara, camafeu… - e doces coloniais, como compota de pêssego, passa de pêssego, figo cristalizado, marmelada branca, entre tantos outros.
PRODUÇÃO TRADICIONAL ASSOCIADA À CAJUÍNA NO PIAUÍ
A cajuína já foi descrita como “a champagne do Piauí”, mas é uma bebida não-alcoólica, feita a partir do suco do caju separado do seu tanino, por meio da adição de um agente precipitador. Planta originária do Nordeste do Brasil, sendo usada para sucos, doces, mel, licores e sorvetes, entre outros tantos produtos.
A cajuína é o resultado da eliminação do sabor amargo e adstringente do suco do caju, e está fortemente vinculada à identidade piauiense. Esse processo de separação do tanino do suco recebe o nome de clarificação, e o suco clarificado é então cozido em banho-maria em garrafas de vidro até que seus açúcares sejam caramelizados, tornando a bebida amarelada e permitindo que possa ser armazenada por períodos de até dois anos.