Quatro semanas atrás, Rodrigo Oliveira, o consagrado chef do Mocotó, um nome de ponta da cozinha brasileira, fechou sua casa mais premiada, o Esquina Mocotó. O restaurante tinha alta cotação nos guias nacionais e fama internacional – o que incluía uma estrela Michelin.
Sábado passado, na Catalunha, foi a vez da chef Carme Ruscalleda, uma das cozinheiras mais famosas do planeta, encerrar as atividades de seu restaurante mais icônico, o Sant Pau, com três estrelas Michelin.
Nenhum dos dois restaurantes foi vítima da crise, da falta de público ou de questões societárias. Foram decisões ponderadas, amadurecidas, embora com histórias bem diversas.
Carme Ruscalleda mantinha o Sant Pau há 30 anos. Começou despretensiosamente, na pequena cidade de Sant Pol de Mar, a 70 quilômetros de Barcelona. O negócio nasceu em 1988 e, paulatinamente, foi conquistando o público e a crítica especializada. Carme ganhou a terceira estrela em 2006. Em julho, anunciou que fecharia as portas (ela tem outros estabelecimentos, inclusive em Tóquio), simplesmente para mudar de rumos. Uma de suas frases resume a proposta: “Aqui não gostamos de reforma, gostamos de reinvenção”.
Rodrigo Oliveira, por sua vez, mantinha o Esquina na zona norte de São Paulo, longe do centro e ao lado do disputadíssimo Mocotó. No princípio, queria que a casa fosse uma espécie de laboratório culinário. Deu mais certo do que previa. Contudo, na opinião dele, o Esquina já tinha cumprido sua missão. “Eu queria provar que a Vila Medeiros poderia ter um restaurante como este. E, depois, vi que a Vila Medeiros não precisava de um restaurante como este”.
Enquanto tantos empresários e chefs passam anos em busca de uma menção no Guia Michelin, pode soar desapego em excesso que outros simplesmente abram mão de suas estrelas – e estando no auge. Mas talvez o segredo seja justamente esse: para alguns, vale mais manter seus princípios, sua filosofia de trabalho e sua independência do que correr atrás de títulos e honrarias. Talvez a autenticidade seja aquilo que os faz diferentes. Talvez por isso sejam premiados.
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As verdadeiras estrelas | Luiz Américo Camargo
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