Sempre fui rápido em minhas escolhas. Chego ao restaurante, olho o menu, analiso e, pronto, decido. Entrada, prato, sobremesa – ou variações disso. Por vezes, se o cardápio está disponível na internet, já examino previamente. Ao me acomodar à mesa, só confiro se há alterações ou novidades, quais as sugestões do dia, e elejo. Para mim, não é complicado.
Em meus tempos de crítico, idealmente eu fazia três visitas antes de escrever sobre uma casa. E escolhia aquilo que iria provar com o seguinte critério: experimentar o que o chef apontava como a sua melhor expressão, de acordo com o garçom; identificar receitas que, porventura, exigissem maior destreza; testar coisas bem diferentes entre si; e pedir também o prato mais apreciado pela clientela. Era, a meu ver, um modo justo de mapear o trabalho da cozinha.
De certa forma, não apenas como jornalista especializado, mas como cliente, eu nutria uma espécie de crença numa segunda chance eternamente renovável. Explico. Ao me definir por um item do cardápio, claro que eu também pensava naquilo que estaria deixando de comer – seria melhor? Mas imaginava que sempre seria possível retornar e conhecer, enfim, aquele prato preterido na visita anterior. E penso que, na média, ainda dá para ser assim (a menos que se trate de um lugar muito exclusivo, ou de uma viagem para um lugar distante...). É provável que tenhamos mesmo uma nova oportunidade.
Minha mulher sofre mais, demora, questiona: este ou aquele? Conheço muita gente que padece, inclusive, de algo que já foi até identificado, a chamada síndrome do prato alheio (isto é, achar sempre que a opção do outro foi mais legal). É algo que, em extremos, pode virar angústia de fato. Bom, a essa altura da vida, mesmo ciente de que não sou imortal (em certas idades, imaginamos que somos), ainda mantenho a serenidade na hora de eleger meu repasto. E, se eu errar, me der mal, fica para a próxima. Esta, ao menos, é uma escolha que sempre poderá ser refeita sem grandes danos. Diferente de outras, mais sérias, que podem não ter conserto. Aí é preciso avaliar bem. Mas, no caso de almoços e jantares, sabores melhores ainda virão.
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Eleições | Luiz Américo Camargo
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