Churrasco de chão é sinônimo não só de refeição, mas também de confraternização em volta do fogo e da carne. Não se tem certeza sobre a origem do costume, mas é fato que ele se fixou como uma tradição gaúcha, principalmente no interior do Rio Grande do Sul, passando de geração para geração.
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Gerente do Parador Casa da Montanha, em Cambará do Sul, onde vive há 16 anos, e responsável pelos assados de sábado no hotel, Marcelo Sartori acredita que o hábito teve início lá atrás, com os tropeiros, que deixavam a carne assando enquanto faziam a lida do campo:
– Esses homens pegavam um pedaço de carne, geralmente costela, e colocavam-na em um espeto feito com madeira de cambuí. A peça era fincada no chão e ficava assando lentamente distante do fogo. Quando eles voltavam, a comida estava pronta.
Nascido em Santiago e patrão do Piquete da Cavalhada, instalado no Acampamento Farroupilha, em Porto Alegre, Carlos Bonatto faz uma viagem no tempo ao opinar sobre quando e onde teve início a tradição. Para ele, tudo começou com os índios, que tinham no fogo uma forma de preparar as refeições, além de ser também a melhor maneira de mantê-los aquecidos.
– Como naquela época não havia fogão, os alimentos, entre eles, o churrasco, eram preparados ao ar livre, com o fogo de chão – conta.
As teorias sobre a origem podem ser diferentes, mas o costume permanece intacto. E para reproduzi-lo basta ter, além de um pedaço de chão propício, fogo, carne, espeto e sal.
– Basta temperar a carne com sal grosso e fincar o espeto inclinado no chão próximo à brasa, com os ossos virados para o fogo para não queimar – ensina Bonatto. – O ideal é assar por pelo menos oito horas e, uma hora antes de servir, virar a carne para tostar do outro lado.
Em Cambará, Sartori segue a mesma tradição que aprendeu desde criança:
– O churrasco de chão é caracterizado, principalmente, por duas coisas: a vala no chão, onde vai ser feito o fogo em brasa, e o espeto de madeira. Não abro mão desse costume, acredito que dá um sabor incrível para a carne – revela. – E, com ela, sirvo pratos do campo, como maionese caseira, feijão tropeiro e aipim.
Há quem diga que o melhor do fogo de chão é a carne. A confraternização, no entanto, em torno do ato de preparar um churrasco de chão é o que melhor caracteriza a cultura gaúcha.
_ Não é só comer a carne, é um ritual que vai desde espetar, colocar no fogo e ouvir o palpite dos que estão presentes, pois nesse momento todos viram assadores _ enaltece Sartori. _ E se estiver ouvindo um Luiz Marenco, então, aí sim que o churrasco fica muito mais saboroso.
O PASSO A PASSO PARA O ASSADO
1. O FOGO
O bom churrasco de chão deve ser assado na brasa, e não no fogo direto, para que a carne não fique seca. Deve-se utilizar lenha, com preferência pela acácia, e acender o fogo pelo menos 40min antes de colocar a carne. É preciso prestar atenção na direção do vento: se não houver vento, é possível manter o espeto reto; se tiver, é melhor inclinar a carne para que ela absorva melhor o calor.
2. A CARNE
A quantidade de carne vai depender do número de pessoas. O indicado é calcular 400g de carne para cada homem e 300g para cada mulher. Uma costela boa, por exemplo, tem de 6kg a 8kg, e o ideal é comprar com a ripa do osso pequena. Isso significa que o boi foi abatido jovem e que, portanto, a carne é mais macia.
3. O TEMPERO
Sugere-se sal grosso para temperar a carne, mesmo quando se trata de ovelha. Pode-se colocar um pouco de alecrim no cordeiro.
4. O TEMPO
Um janelão de costela, por exemplo, deve ser assado por, no mínimo, cinco horas. Outros cortes, por serem menores, são mais rápidos e ficam prontos em uma hora. Para saber o ponto da carne, basta prestar atenção no suco que escorre dela e na cor.
5. PARA SERVIR
A costela deve ser servida ao ponto. Já as outras carnes podem ser mal passadas. É preciso bater bem a carne antes servir, para que ela não fique muito salgada e sem o sabor original.
* Conteúdo produzido por Juliana Palma