De onde vem a criatividade? Os oito episódios da série Abstract – The Art of Design, disponíveis na Netflix, contam histórias que jogam por terra a tese romântica das inspirações que nascem dos atos simples do dia a dia. Todos os personagens – profissionais renomados internacionalmente em áreas como ilustração, fotografia e arquitetura – trabalham duro.
Inclui-se aí o desespero por prazos enxutos ou até mesmo projetos que não vingam, resultando em meses de trabalho “em vão”.O mais interessante nos episódios, com pouco mais de 40 minutos de duração cada, é que não é preciso ser de áreas que envolvem arte ou design para embarcar nas histórias.
A primeira delas é do ilustrador alemão Christoph Niemann, com um expressivo número de mais de 20 capas da revista New Yorker no currículo – a média é de três ou quatro por autor. Metódico até no número de horas para criar, mostrou ideias que resultam em imagens pixeladas, muitas tiradas de criações com Legos.
Leia mais:
"Crashing": comédia debochada sobre humorista traído estreia neste domingo na HBO
Nicole Kidman e Reese Whiterspoon estrelam "Big Little Lies", série de suspense que estreia no domingo
"Tá no Ar": humor inteligente e sem apelações também faz sucesso
Como as histórias não são interligadas, não é preciso seguir a ordem dos capítulos, mas vale conferir todas. Como a de Tinker Hatfield, designer da Nike e criador do icônico Air Jordan, tênis com mais de 20 gerações que teve em seu estudo inicial os impactos específicos sofridos pelos pés de jogadores de basquete – e um dos pioneiros nos estudos de calçados destinados para cada tipo de atividade física.
Nascida no Reino Unido, a cenógrafa Es Devlin (o primeiro nome é uma abreviação de Esmeralda) iniciou sua trajetória em peças teatrais com plateias que não passavam de 80 pessoas e, para solucionar o pouco espaço do palco, criou seus cenários em projeções – que hoje levam o público ao delírio em shows de astros como Kayne West, Beyoncé e Adele.
Alguns dos personagens são tão geniais quanto polêmicos, como o arquiteto dinamarquês Bjarke Ingels. Ao mesmo tempo em que descobrimos suas soluções que envolvem sustentabilidade, fantasia e métodos construtivos que otimizam tempo e orçamento, ouvimos as críticas que o profissional recebe. É o exemplo mais claro de como quebrar barreiras é tarefa para os fortes – e incríveis.
Em tempos de crise econômica, reinventar uma marca pode extrapolar a pressão sobre um setor como o de produção, como visto na idealização do protótipo do SM-1, carro autônomo que o norte-americano Ralph Gilles criou para a Chrysler. Uma narrativa explícita do quão vital é um setor de design dentro de uma empresa.
Para quem quer entender o nascimento da tipografia que faz Nova York ser onipresente no imaginário mesmo de quem sequer visitou a Big Apple, o sexto episódio é uma parada certeira. Paula Scher, mais do que designer gráfica, é ela própria um símbolo pop da cidade, começando pelas letras dos cartazes do The Public Theater, que cria desde 1984.
Entre tantas histórias, encanta o trabalho do fotógrafo inglês criado na Grécia Platon, o homem atrás de cliques dos principais chefes de Estado do mundo em publicações como a capa da revista Times. Um retrato de Platon pode ser identificado pela expressividade do olhar e a força impressa em mãos em primeiro plano. Mas desfilar em meio ao cinismo do poder não tirou dele a delicadeza necessária para um projeto que expôs ao mundo a tristeza de mulheres grávidas após sofrerem abusos sexuais no Congo.
Fecha a lista a designer de interiores Ilse Crawford, de Londres. Aqui, a criatividade também ganhou uma conotação sobre a capacidade de se reinventar. Ilse era editora de uma revista de decoração e passou do universo em duas dimensões para o 3D. E elevou a protagonista uma questão recorrente em todos os episódios: a importância da empatia.
Assista ao trailer de Abstract – The Art of Design