
Após o anúncio do corte de verba da prefeitura recebido na última sexta-feira (14), a Orquestra de Sopros de Novo Hamburgo (OSNH) decretou o fim de suas atividades. Fundada em 1952 pelo maestro Arlindo Ruggeri na cidade do Vale do Sinos, há 72 anos a orquestra era mantida com subsídio do município. Em nota divulgada nesta terça-feira (18), a prefeitura informou que “não há condições de manter o convênio com a instituição”.
Segundo o diretor artístico e saxofonista da orquestra, Gustavo Arthur Müller, a renovação do convênio geralmente era assinada no final de cada ano com o Instituto Arlindo Ruggeri, que mantém a orquestra. Como houve a troca de gestão na prefeitura, ele afirma que se reuniu com o prefeito Gustavo Finck (Progressistas) no dia 15 de janeiro:
— A gente estava preocupado com essa questão legal e a orquestra tinha uma agenda, já no dia 20 de janeiro, para fazer um concerto de abertura do 13º Festival Internacional de Música de Pelotas, no Theatro Guarany, a convite do Sesc — lembra.
Segundo o diretor da OSNH, o prefeito pediu um prazo até o dia 24 de janeiro para dar um retorno sobre o convênio. Contudo, Müller afirma que nunca foi levantada a hipótese de que o repasse seria cortado. Ele diz que a nova gestão apenas pediu tempo para analisar as contas do município.
O diretor diz que não recebeu retorno dentro do prazo e que não conseguiu conversar diretamente com o prefeito depois do primeiro encontro. Após tratativas com o chefe de Gabinete e com o secretário de Cultura Angelo Reinheimer, na última sexta-feira (14), Müller recebeu um e-mail no qual o dirigente da pasta afirma que “o município enfrenta sérios desafios financeiros” e que por isso não renovaria o Termo de Parceria com o Instituto.
— Enquanto músico, é horrível a gente perder uma orquestra no Estado, porque já tem pouquíssimas orquestras funcionando no Rio Grande do Sul. A gente está dando um exemplo para as outras cidades que ainda não têm (orquestra), ou que pensavam em ter, de que realmente não vale a pena investir nisso, porque é só gasto. Investir em cultura não é gasto — sublinha.
Repasse
O montante de R$ 1.208.260,00 que seria repassado pelo município ao Instituto seria destinado à manutenção da orquestra e de três polos do Núcleo de Orquestras Jovens, projeto social que oferece ensino de música sem custo para crianças e adolescentes da cidade. Desse valor, cerca de R$ 950 mil seriam para a orquestra e o restante para o projeto.
O aporte seria utilizado para quitar os salários dos 34 músicos da OSNH, além de outros profissionais envolvidos no projeto como professores, arquivistas, montadores, assessores contábeis e jurídicos. Também é utilizado para a compra de materiais como cordas para os instrumentos musicais. O projeto oferece vagas para 75 alunos.
Recurso federal
No e-mail recebido pelo Instituto na sexta-feira, a prefeitura informou o fim do repasse para três polos do Núcleo de Orquestras Jovens: da Escola Estadual 25 de Julho; da E.M.E.F. Prof. Adolfina Diefenthäler e da Estação Cidadania.
Dos 26 núcleos do projeto, 19 são mantidos com recursos captados por meio da Lei Rouanet e sete com verba do município.
Na nota divulgada pela prefeitura nesta terça-feira, o Executivo informou que “dos sete núcleos mantidos pelo Município, quatro estão com o convênio assinado e os outros três serão regularizados nos próximos dias”.
A prefeitura diz também que “utilizará recursos federais destinados à Educação” para assegurar a continuidade do projeto.
Investimento privado
Em nota, a prefeitura também disse que “o Executivo está à disposição para auxiliar a OSNH na captação de recursos junto à iniciativa privada” e que “o cenário pode ser alterado para o próximo ano, pois a situação é momentânea devido à escassez de recursos”.
Contudo, o diretor artístico da orquestra reitera que a construção de um projeto para a captação de recursos requer tempo e interesse prévio de empresas.
— Antes de se fazer qualquer projeto, e quem trabalha com projetos sabe disso, você vai primeiro ter uma possibilidade ou um aceno de alguma empresa ou de várias empresas, para saber o potencial de investimento que você tem com aquele projeto. Porque se você não capta um valor mínimo necessário ou perto daquilo para realizar, às vezes nem realiza nada, por conta dos processos que a própria lei de incentivo, seja estadual ou federal, tem.
Rombo milionário no orçamento
A prefeitura de Novo Hamburgo alega que herdou R$ 200 milhões em dívidas da gestão passada. Em nota, o Executivo diz que “precisará adequar integralmente o orçamento de 2025” e que “todas as secretarias, diretorias e departamentos têm menos dinheiro do que o previsto para desenvolver suas ações e programas”.
Zero Hora solicitou entrevista com o secretário de Cultura à assessoria de Comunicação da prefeitura, mas foi informada de que o município só se manifestaria por meio de nota.
72 anos de história
Em 5 de junho de 2025, a Orquestra de Sopros de Novo Hamburgo (OSNH) completaria 73 anos. Em 1952, foi fundada como a banda municipal da cidade. Em 1997, foi criado o Instituto Arlindo Ruggeri, batizado com o nome do fundador da banda. O instituto se tornou a Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) responsável pela gestão da orquestra.
Em 2008, o grupo foi tombado como Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Novo Hamburgo. Em tempo de atividade no RS, a OSNH fica atrás apenas da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa), que completa 75 anos em 2025.
Veja a nota oficial da prefeitura
"A Prefeitura vem a público explicar sobre os repasses à Fundação Arlindo Ruggeri, que é a mantenedora da Orquestra de Sopros de Novo Hamburgo (OSNH).
Núcleos de Orquestra Jovem:
A totalidade dos núcleos de orquestra jovem do Município têm suas atividades garantidas para 2025.
Dos sete núcleos mantidos pelo Município, quatro estão com o convênio assinado e os outros três serão regularizados nos próximos dias.
Para assegurar a continuidade do programa, o Município utilizará recursos federais destinados à Educação.
Manutenção da OSNH:
A Prefeitura de Novo Hamburgo reconhece a importância e a relevância da Orquestra de Sopros para a cidade.
Porém, diante das dificuldades financeiras enfrentadas pelo Município neste momento, não há condições de manter o convênio com a instituição.
O Executivo está à disposição para auxiliar a OSNH na captação de recursos junto à iniciativa privada. Além disso, ressalta que o cenário pode ser alterado para o próximo ano, pois a situação é momentânea devido à escassez de recursos.
Impacto no orçamento:
Como há mais de R$ 200 milhões de despesas não pagas de 2024, o Executivo precisará adequar integralmente o orçamento de 2025. Com isso, todas as secretarias, diretorias e departamentos têm menos dinheiro do que o previsto para desenvolver suas ações e programas.
Portanto, o contingenciamento de despesas não atinge apenas o setor cultural. As demais pastas também enfrentam a mesma necessidade de readequação financeira."