No tempo da televisão em preto e branco, lutadores animavam as noites de domingo na TV Gaúcha (RBS TV). O Ringue Doze foi um fenômeno de audiência nos anos 1960. Gran Caruso, Romano, Ted Boy Marino, Fantomas, Tigre Paraguaio e outros mocinhos e vilões viraram ídolos de gaúchos de todas as idades. Em Porto Alegre, o ringue de luta livre era montado no Ginásio da Brigada Militar, que ficava lotado.
O programa seguia um roteiro que você já viu em muitos filmes. O vilão começava batendo, dando "golpes baixos", quase matando o mocinho. Quando parecia não ter mais saída, o herói invertia a luta, ressurgindo das cinzas até dar o golpe final. Quase sempre, o mocinho vencia, para o delírio da maioria do público.
A transmissão ao vivo virava um espetáculo. A cobertura da equipe de esportes da Rádio Gaúcha oferecia seriedade e credibilidade. O apresentador era Éldio Macedo, que subia no ringue de smoking.
Os malvados também atraíam admiradores. Tesouras, imobilizações e outros golpes levantavam a plateia no ginásio e em casa. A estreia na TV Gaúcha, o Canal 12, ocorreu em 1964.
— Nos anos 1960, já havia programas assim no Rio, até mesmo a TV Piratini exibiu alguns, mas o sucesso não era tão grande — contou, em 2009, o diretor do programa, Ary dos Santos, falecido em 2018.
Mesmo com resultado combinado previamente, às vezes as lutas eram para valer. Gran Caruso e Romano, por exemplo, viraram de fato rivais.
As disputas poderiam ser com dois ou mais lutadores. O empresário Moacir Dornelles conseguiu os profissionais que já atuavam em outras cidades, incluindo muitos estrangeiros.
Uma notícia publicada em Zero Hora, em 1967, anunciava o retorno de Ted Boy Marino, "ídolo da juventude e também do programa de TV Os Adoráveis Trapalhões", protagonizado por Renato Aragão e Dedé Santana, na TV Excelsior. O Ringue Doze teve naquela noite cinco lutas: Carrasco e Tostão; Moicano e Nick Carter; Ringo e Lobo; Cavalheiro Vermelho e Capanga; e, na principal, Ted Boy Marino e Edu.
O espetáculo envolvia até crianças. Quando estava com seis anos, Paulo Urbim, hoje com 62 anos, fez o papel de Renê, filho do lutador King Kong.
— Eu subia no ringue quando batiam no meu pai. Depois de também sofrer alguns golpes, corria para o colo das senhoras na plateia. Elas se envolviam muito nas lutas, davam até com o guarda-chuva nos vilões — recorda Urbim.
Em 1969, o Ringue Doze saiu do ar no Canal 12. A ideia era fazer uma parada temporária para renovar elenco, mas a atração não voltou. Em 1973, estreou o programa Fantástico nas noites de domingo na TV Gaúcha. Depois do fim do programa, equipes de "catch" continuaram apresentações no interior do Estado.