O professor e historiador Voltaire Schilling morreu na noite deste domingo (2), em Porto Alegre, aos 77 anos. Ele não resistiu a um quadro de embolia pulmonar e sofreu uma parada cardíaca por volta das 22h, na Santa Casa de Misericórdia.
Segundo a filha, Schilling já estava com a saúde fragilizada havia alguns meses. Ele tinha inserido um marca-passo e sido diagnosticado com perda neurológica.
— Estava sendo demasiadamente sofrido. Ele não merecia passar por toda a dor e sofrimento dos últimos meses. Recentemente, colocou um marca-passo, pois o coração estava muito fraco e deixava de vascularizar algumas regiões — comenta a filha, Paula.
Ao longo de mais de três décadas, o historiador lecionou em diferentes instituições do Estado, como a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e o Colégio Israelita Brasileiro, além de ter sido diretor do Memorial do RS. Em 2008, foi eleito membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Três anos antes, foi agraciado com a Medalha Cidade de Porto Alegre. Em 2013, recebeu a insígnia de cavaleiro da Ordem Nacional do Mérito, que é uma das principais honrarias civis francesas.
Schilling era uma referência entre os historiadores gaúchos, com uma extensa coletânea de livros publicados ao longo da carreira — as obras versavam principalmente sobre história e política. Entre os trabalhos de destaque, estão os volumes O Nazismo: Breve História Ilustrada (1988), Estados Unidos versus América Latina: as Etapas da Dominação (1991), Tempos da História (1995), O Conflito das Ideias (1999), Ocidente x Islã (2003), Holocausto – das Origens do Povo Judeu ao Genocídio Nazista (2016, 2ª edição) e Ascensão e Queda de Adolf Hitler (2018, 2ªedição) e Modernismo e Antimodernismo (2019). Segundo os filhos do historiador, ele tinha pelo menos cinco obras prontas para publicação, mas ainda sem lançamento previsto.
O gaúcho também atuava como conferencista, palestrante e colaborou com jornais, revistas e portais de todo Brasil. No site Terra, chegou a comandar uma seção focada em assuntos históricos e, em Zero Hora, foi articulista da página de Opinião e colaborador do caderno Cultura. Ele também publicou textos e análises na Folha da Manhã e na revista Superinteressante. Na TV, atuou como comentarista de assuntos internacionais, culturais e políticos na TV Guaíba.
Em Zero Hora, seus artigos tratavam de análises de passagens históricas, personagens marcantes ao redor do mundo, da cena cultural do Estado e também de Porto Alegre. Schilling lançava mão de seu conhecimento para traçar paralelos com o presente – como neste texto, de 2017, em que traz considerações sobre o Brexit – ou pinçava curiosidades e jogava luz sobre detalhes históricos, a exemplo da "delação premiada em Atenas". O historiador também opinava sobre arte e estética e, em 2009, em um artigo publicado em ZH, definia boa parte dos monumentos da capital gaúcha como "abominações", o que suscitou um longo debate na cidade acerca do tema.
Schilling era separado e deixa dois filhos: Paula e Voltaire. À reportagem, Paula explicou que, nos últimos anos, o estado delicado de saúde do pai havia se agravado ainda mais – ele já tinha passado por dois transplantes de rim, era diabético e tinha o coração debilitado. E foi justamente nessa época que estreitou ainda mais o laço com a família, conta Paula:
— No último ano ele estava se dedicando mais aos filhos, estava um pai mais amoroso e participativo. Era notório o esforço dele para escrever uma nova história em família.
O velório de Schilling será realizado nesta terça-feira (4), das 10h ao meio-dia, no Memorial do Rio Grande do Sul.