Você pode conhecê-lo pelos codinomes Dona Hermínia ou Valdomiro, talvez lembrá-lo pela figura careca, espalhafatosa e gritona. E provavelmente já o assistiu em filmes, peças, programas de televisão ou comerciais. Fato é que o humorista carioca Paulo Gustavo estabeleceu-se como um dos maiores nomes da comédia no Brasil e vem empilhando espectadores em sua mais recente empreitada: há quatro semanas em cartaz, Minha Mãe É uma Peça 2 superou 6,5 milhões de ingressos vendidos e já é um dos filmes mais vistos da história do cinema brasileiro (leia mais abaixo).
Ainda que surpreendam, não dá para dizer que os números são obra do acaso. Aos 38 anos, Paulo Gustavo acumula boa experiência em diversas mídias e já têm um público formado. Em sua conta no Instagram, o humorista comemorou a marca em recado para seus seguidores – atualmente, são 5 milhões de fãs que recebem suas atualizações diárias no aplicativo. "Tô achando muito maneiro essa coisa da família inteira ir assistir. As pessoas começaram a falar 'levei meu avô que tem 80 anos, fazia 20 anos que ele não ia no cinema', 'levei minha família toda ao cinema pela primeira vez', e aí eu vejo as fotos na internet, não consigo parar de estar conectado com vocês. Fico emocionado!", comentou Paulo, nos "moments" (vídeos curtos publicados no aplicativo), para depois completar: "Eu estou enlouquecido, deslumbrado! Fiz esse filme com o maior carinho, não tinha ideia de que ia dar essa multidão".
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A carreira do humorista, formado na Casa das Artes de Laranjeiras, no Rio, começou a ganhar notoriedade com a criação da personagem Dona Hermínia. Em 2004, ele apresentou a matriarca na peça teatral Surto. Dois anos mais tarde, fez sucesso na cena de teatro carioca ao trazer a dona de casa sempre à beira de um ataque de nervos de volta aos palcos, com o monólogo Minha Mãe É uma Peça, que mais tarde migraria para o cinema e catapultaria o humorista ao status de celebridade – o primeiro filme teve 4,6 milhões de espectadores.
Em 2010, Paulo Gustavo deixou de lado a fantasia e passou a apostar no humor stand-up de cara limpa. Estreou Hiperativo, espetáculo dirigido por Fernando Caruso que abriu as portas para o comediante se aventurar na TV: após algumas participações em humorísticos da Globo, ele teve destaque no filme e na série Divã. Daí para um programa próprio foi um pulo. O careca espalhafatoso passou a ser visto nas séries 220 Volts (que virou peça de teatro), Vai que Cola (que se transformou também em longa-metragem, com 3,3 milhões de ingressos vendidos) e no reality Paulo Gustavo na Estrada.
É bom, portanto, ficar atento aos movimentos de Paulo Gustavo – seu humor de tipos populares, a carismática relação entre ele e o marido, o dermatologista Thales Bretas (casal cuja rotina é acompanhada detalhadamente pelos fãs nas redes sociais) e a linguagem muito próxima à do grande público consagraram o comediante como astro absoluto do cinema, da TV, do teatro e da internet.
“Minha Mãe É uma Peça” faz história
Ao fechar sua quarta semana de exibição com 6.580.458 espectadores (dados do Portal Filme B), Minha Mãe É uma Peça 2 entra na história dos grandes sucessos de bilheteria do cinema brasileiro. Desde que os dados são contabilizados, pelo antigo Concine, e agora pela Ancine, fica atrás apenas de Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), com 10.735.305, e Tropa de Elite 2 (2010), com 11.204.815.
Seria também superado por Os Dez Mandamentos (2016), com 11.215.000, caso esses números fossem confiáveis. Nesse último caso, há que se colocar um asterisco, como se faz nas tabelas esportivas quando existe a possibilidade de tapetão. Tudo indica que, no caso de Os Dez Mandamentos, houve compra em massa de ingressos pelas igrejas evangélicas, depois distribuídos aos fiéis, que nem sempre os aproveitaram. Produziu-se então o fenômeno de "o maior sucesso de bilheteria nacional de todos os tempos" ser exibido em salas muitas vezes vazias ou com lotação pela metade. Os historiadores do futuro terão de matar essa charada para colocar o filme bíblico em seu devido lugar na numerologia cinematográfica nacional.
Já as cifras de Minha Mãe É uma Peça 2 estão acima de qualquer suspeita. Tem de fato lotado cinemas e mostra média de 694 espectadores por sala, alta após um mês de exibição. Caiu 32% em relação à semana anterior, o que levanta dúvidas sobre até onde deve chegar. Pode atingir 8 milhões, e seus distribuidores mantinham a esperança de tocar a cifra mágica de 10 milhões. E vem aí a terceira parte do que já podemos considerar uma franquia, com a mãe maluquete agora aprontando confusões em Nova York.
Do ponto de vista cinematográfico, Minha Mãe É uma Peça 2 é uma evolução em relação ao primeiro filme da série, que fez 4,6 milhões de espectadores. Dona Hermínia (Paulo Gustavo) agora é apresentadora de TV e mantém sua relação complicada com os filhos Marcelina (Mariana Xavier) e Juliano (Rodrigo Pandolfo). O fato de dona Hermínia não aceitar que o filho se torne heterossexual é uma curiosa inversão de preconceito de gênero, o que produz efeito cômico.
Esses efeitos se repetem ao longo da história, pontuada pelos bons diálogos (melhor seria dizer monólogos) ditos de modo rápido por Gustavo. Ele é tão bom cômico que logo nos esquecemos de que se trata de um homem interpretando essa mãe tão pouco convencional, desbocada e com o cabelo enrolado em bóbis.
A fotografia é aquele desastre habitual das comédias nacionais com sua estética dos antigos comerciais de margarina – coloridinha, óbvia, sem sombras, sem matizes. Mas, em compensação, o ritmo é bom, o roteiro razoavelmente engenhoso, embora ceda aqui e ali ao riso fácil do palavrão que, em aparência, ainda tem efeito catártico sobre o brasileiro, sendo essa uma pequena transgressão partilhada por todos na sala escura.
O mais importante: a comédia tem ritmo, condição indispensável para o gênero. Muito candidato a diretor de comédias faria bem ao assistir a essa, sem preconceitos, para constatar a importância do timing na comunicação cômica com a plateia. Vi o filme não numa sessão de críticos, mas com o público normal, às 20h, em sala com três quartos da lotação. Posso testemunhar que Minha Mãe É uma Peça 2 apresenta aquela característica indiscutível da boa comédia de unir o público nesse rito comum e contagiante do riso desopilante. Se é bom ou mau cinema é outra história. Mas, que diverte e faz rir, isso ninguém discute.
Cinema
"Minha Mãe É uma Peça 2" já é um dos filmes mais vistos da história do cinema brasileiro
Comédia estrelada pelo ator Paulo Gustavo já somou 6,5 milhões de espectadores nos cinemas
Gustavo Foster
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