Há mais de uma década trabalhando nessa indústria vital, perdi as contas de quantos festivais de música já participei. De uma maneira ou de outra, todos foram importantes e aumentaram minha bagagem profissional. Mas só um me faria voltar: o Mississippi Delta Blues Festival. Que para minha completa felicidade, abre sua edição 2016 nesta quinta-feira.
Fundado em 2008 como uma consequência do Mississippi Delta Blues Bar, o MDBF é hoje uma instituição brasileira. Pelos seus palcos, instalados na histórica Estação Férrea de Caxias do Sul, já passaram blueseiros do mundo todo – incluindo lendas, como Magic Slim e Robert "Bilbo" Walker, e incendiários contemporâneos, como Mr. Sipp. É também onde o passado, o presente e futuro do gênero no Brasil se encontram como em poucos lugares, graças a uma curadoria que entende do riscado.
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Este, pra mim, é o grande mérito do MDBF e razão pela qual tenho vontade de voltar todo os anos: o foco na música. Claro que é divertido. Claro que é um evento social. Mas se você está em busca de fazer girar seu contador de beijo na boca, bem, talvez não seja a melhor pedida. Porque diferentemente de festivais que priorizam o entretenimento e deixam a música em segundo plano, o Mississippi Delta Blues Festival é feito para quem gosta de música, para quem valoriza o artista que está em cima do palco.
E essa postura se reflete por todo o festival. Há uma preocupação em oferecer som adequado e ambiente limpo e saudável. Comidas e a bebidas são realmente boas e com preço honesto. A quantidade de pessoas circulando não excede a capacidade do lugar, ou seja, não tem empurra-empurra e as filas são suportáveis.
Resumindo: se puder ir, vá. Entre as atrações deste ano estão JP Soars and The Red Hots, James "Boogaloo" Bolden, Bex Marshall, Tail Dragger, Annika Chambers, Alamo Leal, Bob Stroger e Fernando Noronha, espalhados por sete palcos, de quinta a sábado, das 18h às 4h. Informações sobre valores e compra de ingressos estão no site oficial do evento.
LANÇAMENTOS
O BOBO E À BEÇA
De Victor Issler
De Pelotas, Victor Issler estreia em disco apostando em um folk pop mezzo rural mezzo urbano, tendo o violão dedilhado sempre como protagonista. Às vezes, o álbum puxa mais para a cidade – caso de Peixe Rei, que tem pegada de country moderninho; às vezes, vai fundo no mato, como em Linda Luzia e Bárbara. Mas há momentos que destoam completamente da proposta, caso de outra faixa-garota, Clarissa, que acrescenta certo peso ao repertório, com solo de guitarra distorcida sobre um piano etéreo. Em outros momentos, lembra os conterrâneos Kleiton & Kledir, em baladas cantadas com alguma teatralidade – Narciso e a faixa-título, por exemplo. É um belo começo para Victor. (Folk, independente, 10 faixas, disponível para audição nos serviços de streaming e para download em victorissler.com.br)
FANTOMATICOS III
de Fantomaticos
Banda que integrou o boom do rock alternativo em Porto Alegre no início dos anos 2000, os Fantomaticos chegam ao terceiro disco olhando para o futuro retrabalhando o passado. Há ainda um pouco da experimentação que norteou os primeiros dias do grupo, caso de Teimoso como um satélite e seus vários andamentos, mas também faixas que só poderiam ser feitas agora, como a dramática Tenso, ou a minimalista indie Te vi em Madri. Pergunte ao amor é puro Beatles (outra das influências marcantes dos Fantomaticos), enquanto Nervoso apresenta uma balada que remete aos anos 1950 de letra corrosiva: "quando os nervos explodem eu vou para o mato fumar e beber, pois a vida moderna é sobre jogar e jogar e perder". O show de lançamento do disco está marcado para o dia 25 de novembro, no Teatro Bruno Kiefer da Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre. (Pop, Ué Discos, 12 faixas, disponível nos serviços de streaming)
Coluna
PLAYLIST: o imperdível Mississippi Delta Blues Festival
Bonus tracks: a estreia em disco do músico Victor Issler e o novo trabalho dos Fantomaticos
Gustavo Brigatti
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