O mais importante festival internacional de quadrinhos da Europa, o de Angoulême, na França, se tornou o alvo de uma série de denúncias e protesto contra o sexismo da organização. A lista de indicados ao Grande Prêmio do festival, concedido a cada edição em homenagem a quadrinistas que contribuíram para a história e o desenvolvimento do gênero, foi anunciada na última terça-feira, dia 5. Eram 30 indicados, todos eles homens. O anúncio provocou protestos imediatos nas redes sociais e manifestações de entidades como o BD Egalité, grupo de criadoras de quadrinhos que luta contra o sexismo acentuado do meio. O BD Egalité lançou um chamado de boicote ao festival. Na quarta-feira, na sequência dos protestos, vários artistas indicados ao Grand Prix solicitaram a retirada de seus nomes da lista, em solidariedade. Ao todo, 10 quadrinistas já anunciaram sua desistência, entre eles alguns dos grandes nomes da HQ contemporânea, como Daniel Clowes (Autor de Wilson e de Ghost World – adaptado em 2001 para o cinema), Joann Sfarr (que, além de quadrinista, é o diretor da cinebiografia de Serge Gainsbourg), Brian Michael Bendis (criador de Jessica Jones recentemente adaptada para uma série no Netflix) e Chris Ware (Autor de Jimmy Corrigan, considerada uma das obras-primas formais do gênero).
Outro indicado que debandou do festival foi o italiano Milo Manara (autor de Click e coautor, com o chileno Alejandro Jodorowski, de Os Bórgia). O próprio Marana, autor de histórias de teor erótico, já foi alvo de pesadas críticas de grupos feministas pelo modo como desenha mulheres, todas mais ou menos com o mesmo rosto e com ênfase apenas em seus atributos sexuais.
A princípio, o festival justificou sua escolha alegando que seu prêmio é dedicado a contribuições históricas ao meio dos quadrinhos, e por isso nenhuma mulher havia sido selecionada.
– Infelizmente, há poucas mulheres na história dos quadrinhos. Essa é a realidade. Se você for ao Louvre, também verá poucas artistas. – alegou o produtor executivo do Festival, Franck Bondoux.
A declaração foi rebatida pelo americano Bendis, um dos mais novos na lista de indicados, com 48 anos, que lembrou, em um texto em seu tumblr pessoal, de outras artistas mais velhas e com mais trajetória no meio do que ele próprio, como Jill Thompson, que trabalhou com Neil Gaiman na consagrada Sandman.
Devido à repercussão negativa e para tentar estancar a debandada dos indicados, o festival voltou atrás em sua decisão e anunciou nesta quinta, dia 7, que deve rever e expandir a lista, acrescentando mulheres e preservando os que já haviam sido indicados.