
O relato emocionado e espontâneo de uma professora de Pelotas ao encontrar o ídolo DJ KL Jay, empresário e integrante do grupo de rap Racionais MC's, viralizou na internet neste fim de semana.
O encontro aconteceu na última terça-feira (15), quando Luciane Geanini Pena dos Santos, 46 anos, professora da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), circulava pelas ruas da cidade no sul do RS.
— E pensar o quanto vocês traziam para a gente como mensagem a transformação por condições melhores em educação. Eu estudei, meu pai é motorista de ônibus, minha mãe empregada doméstica, eu fiz Odontologia e sou professora da Universidade Federal de Pelotas — relatou, entre lágrimas, ao ídolo na ocasião, gravada em vídeo que circula nas redes sociais.
Após a fala, o artista a abraçou, sorrindo, e pediu que ela parasse de chorar — ou ele começaria a fazer o mesmo.
"Mais do que um ídolo"
Em conversa com Zero Hora, a professora afirmou que ficou impressionada com a rapidez e a repercussão de uma "história comum" — mas pondera que esta pode ser justamente a força que gerou identificação e conferiu tamanha dimensão ao vídeo.
Luciane relata que ficou surpresa e chegou a duvidar ao vê-lo em uma cidade menor como Pelotas. Ela descreve o encontro como "surreal" e menciona ter dito a KL Jay o quanto os Racionais MC’s, sobretudo com suas mensagens sobre educação, impactaram sua vida — desde a infância como menina negra da periferia de Santa Maria até sua atuação como docente na UFPel.
— Meus pais são trabalhadores assalariados. A minha mãe foi empregada doméstica a vida inteira, e uma das maiores dores dela, que ela sempre fala sobre isso, foi quando tiraram ela da escola, para que ela trabalhasse em casa de família, muito jovem, antes de ter 10 anos. Meu pai também sempre trabalhou de motorista, de ônibus, de táxi, de caminhão de gás, então, eu venho desse contexto de uma família negra, trabalhadora, que não teve acesso à educação, mas que sempre supervalorizou a educação dos filhos — conta.
A professora conta que chegou a agradecer a paciência e a se desculpar com KL Jay por ser mais uma fã a abordá-lo — algo que imagina ser cansativo e que ele deve ouvir frequentemente —, mas ressalta que o empresário foi gentil.
Para Luciane, o grupo de rap é "icônico" e esteve presente em todos os momentos de sua vida — dos mais desafiadores aos de superação e vitória.
— É mais do que um ídolo. Para a gente, é como se ele estivesse em parte da nossa vida mesmo. É como se fosse um membro da tua família que estivesse sempre contigo, só que com as palavras certas, para o momento certo — destaca.
Identificação e transformação
O conteúdo das músicas serve a todas as pessoas e classes sociais e é atemporal, na visão da docente.
— Tu sempre encontra alguma coisa nas músicas deles. Acho que é por isso que a população brasileira se identifica tanto com eles, e a gente se emociona tanto quando os encontra. Porque lá nos anos 1990, eles já falavam sobre coisas que agora, em 2025, a gente se dá conta. Tem muitas coisas ainda que, cada vez que eu ouço uma música, me bate de uma forma diferente, que eu nunca tinha pensado. Sempre tem algo para eu descobrir em mim mesma ou sobre a população — afirma.
Luciane ressalta o impacto dos Racionais nos jovens brasileiros, sobretudo na população negra e periférica, e frisa a importância de mensagens como aquelas propagadas pelo grupo:
— Fica evidente o quanto a gente precisa ter essas mensagens chegando até nós, a mensagem da periferia, chegando a todas as pessoas. O quão transformador é. Não sei se eles conseguem se dar conta de quão longe chega a mensagem deles e o quanto isso nos muda. E o quanto a gente precisa, nas universidades, levar essas falas, não ficar distanciado.