
Durante este ano, o Instituto Goethe realizou uma programação cultural intensa para celebrar seus 50 anos em Porto Alegre e os 60 anos do Instituto Cultural Brasileiro-Alemão. As atividades envolveram artes visuais, teatro, música, cinema e literatura. Agora é a hora de misturar tudo. O Festival de Artes, que começa neste sábado (5/12) e vai até quinta-feira (10/12), com entrada franca, encerra a festa do cinquetenário com a apresentação de três projetos inéditos selecionados por meio de um edital nacional para produções que combinassem pelo menos duas linguagens artísticas: Cinema Sinergético é um espetáculo multimídia do duo musical Anvil Fx e da dupla de VJs Modular Dreams, Corte Seco é uma instalação performática do escritor Ismael Caneppele e da multiartista Carina Levitan e Fábrica de Calcinha reúne os performers Marina Mendo, Marta Felizardo, Ricardo Pavão e Rossendo Rodrigues (leia abaixo).
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- A ideia do festival é fomentar a colaboração de artistas de diferentes linguagens - explica Marina Ludemann, diretora do Instituto Goethe de Porto Alegre. - Essa ideia de colaboração não é nova, vem desde o romantismo alemão. O conceito de obra de arte total de Wagner referia-se à conjugação de música, teatro, dança e artes plásticas. Desde o início do século 20, a produção cultural vem investido na dissolução de fronteiras entre as categorias tradicionais. Nos anos 1960 e 70, as chamadas novas vanguardas também mesclaram música, arte, cinema e literatura.
Refletindo sobre o meio século de atividades a partir de uma pesquisa realizada para o aniversário, Marina - que coordena o Goethe da Capital desde junho de 2013 - observa que o papel do instituto sofreu transformações ao longo desta trajetória:
- Durante a ditadura militar no Brasil, o papel do Goethe era completamente diferente de hoje. Oferecia um espaço para a oposição poder se articular em um tempo no qual não havia liberdade de expressão. Atualmente, temos outro papel. Procuramos estabelecer contatos internacionais, o que talvez falte um pouco no Rio Grande do Sul.
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A diretora explica que o Goethe é uma organização intermediária entre o governo alemão, o Ministério das Relações Exteriores daquele país e a sociedade civil, o que garante independência de atuação, mesmo usufruindo de verba pública.
- Por isso, podemos trazer escritores que criticam o governo alemão. O contrato nos dá liberdade para agir da nossa maneira.
Para 2016, gravuras, diretoras e videoarte
Em sua análise, a independência é uma superação das "catástrofes do Terceiro Reich":
- A lição aprendida depois do nazismo é que é muito perigoso quando a cultura não é independente. O Instituto foi fundado nos anos 1950, quando ainda estava muito vivo o que havia acontecido nos anos 1930 e 40. Estamos gratos com a criação do Goethe, pois a independência política é um bem precioso.
Um dos princípios da instituição é criar ações em parceria com entidades gaúchas para dialogar com a cultura local de acordo com suas inquietações e necessidades. Exemplo disso é a cooperação com museus e outras instituições em um grande projeto sobre a gravura, técnica cujo desenvolvimento no Estado tem pontos de contato com sua história na Alemanha. Estão previstas exposições para 2016 e 2017. No ano que vem, deverá ser apresentada uma mostra de curtas-metragens de diretoras de Brasil, Argentina, Uruguai e Alemanha para debater a posição das realizadoras mulheres na produção cinematográfica internacional. Já o prestigiado videoartista alemão Marcel Odenbach ganhará, em abril, exposições no Margs e no Instituto Goethe.
FESTIVAL DE ARTES
Todas as apresentações têm entrada franca
Fábrica de Calcinha
Neste sábado (5/12), segunda-feira (7/12) e quarta (9/12), às 19h, no Instituto Goethe de Porto Alegre (Rua 24 de Outubro, 112)
Por meio de recursos como sampler, pedal de efeitos, amplificadores e microfones, os artistas Marina Mendo, Marta Felizardo, Ricardo Pavão e Rossendo Rodrigues retrabalham criativamente a paisagem sonora do centro da Capital, notadamente dos vendedores ambulantes e suas ofertas de produtos como calcinhas e serviços como corte de cabelo e previsão do futuro.
Cinema Sinergético
Neste sábado (5/12), às 20h, e domingo (6/12), às 18h, na Cinemateca Capitólio (Rua Demétrio Ribeiro, 1.085)
Combinando cinema, música, vídeo e performance, o espetáculo multimídia intervém sobre uma projeção do filme mudo alemão Raskolnikow (1923), de Robert Wiene, baseado em Crime e Castigo, de Dostoiévski. O trabalho é assinado pelo duo musical Anvil Fx (Paulo Beto e Bibiana Graeff) e pela dupla de VJs Modular Dreams (Priscilla Cesarino e Danilo Barros).
Corte Seco
Domingo (6/12), terça-feira (8/12) e quinta (10/12), às 19h, na Galeria Península (Rua dos Andradas, 351)
A instalação performática do escritor Ismael Caneppele e da multiartista Carina Levitan reúne elementos sonoros, leitura de textos, projeções de imagens e performance a partir do Manifesto Silêncio, de Caneppele. O trabalho aborda criativamente a possibilidade de aproximação entre universos, envolvendo temas como processos de desterritorialização e o encontro com o diferente.