Cronista da atualidade, Nei Lisboa passou os últimos 40 anos cuidando do presente. Mas, em 2015, decidiu olhar para o passado recente. E o que ele encontrou está em Telas, Tramas & Trapaças do Novo Mundo, recém-lançado registro ao vivo que reúne sua produção dos últimos 15 anos.
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Não se trata, no entanto, de uma seleção óbvia, dessas compostas por uma dúzia de canções conhecidas apenas por serem, bem, conhecidas. Telas... é, na verdade, um disco temático, que reflete sobre a primeira década e meia do século 21 através da pena arguta de Nei.
- Meu desejo era ir além de uma mera coletânea, buscar uma unidade temática, e acho que consegui. - explica Nei. - Esse mote das Telas... estava latente há vários anos e encontrou sua melhor hora nesse projeto. O interessante do resultado final é o quanto tudo isso se afinou, se harmonizou com o título e com o contexto, mais do que se pudesse esperar.
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Gravado ao vivo no Salão de Atos da UFRGS em junho deste ano, com patrocínio da Natura Musical e financiamento da Secretaria de Estado da Cultura, o álbum partiu do repertório do disco mais recente de Nei, A Vida Inteira (2013). Para completar, três músicas inéditas e faixas de trabalhos lançados do ano 2000 para cá e que ainda não tinham versão ao vivo.
A costura se dá no olhar sempre pessoal de Nei sobre aspectos da sociedade que enxerga como interessantes ou problemáticos ao longo dos últimos anos - e que ainda seguem atuais. A militância virtual frente às grandes tragédias do mundo, por exemplo, é um tema que nunca sai da pauta e foi contemplado por ele em Ponto Com, canção de 2001 do disco Cena Beatnik. Corta para 2013, e A Vida Inteira, do disco homônimo, reflete sobre a eterna necessidade de aprovação em tempos de redes sociais.
- Escrevo sobre o agora, ou sobre qualquer coisa, contanto que seja uma necessidade, algo que me sinta impelido a dizer pela falta que representa - define Nei. - Se essa significação irá se sustentar no tempo, não posso prever, mas por aqui a história costuma andar em círculos e, às vezes, numa descendente.
Esse eterno retorno se faz ainda mais presente (e necessário em épocas em que se pede por intervenção militar) em E a Revolução, canção escrita por Nei para Cena Beatnik em homenagem ao irmão, morto pela ditadura militar. Publique-se a Versão fala sobre uma certa decadência da mídia, enquanto a nova Para Um é pequena ode aos movimentos sociais inspirada no Fórum Social Mundial.
Décimo primeiro disco de Nei, Telas... pode ser considerado, também, aquele ponto de autorreflexão a que todo artista acaba chegando. Reler a própria obra e entregá-la para o escrutínio do público enquanto busca outras aventuras, no entanto, não bota medo em Nei.
- É um momento, sim, de avaliar-se e de bem celebrar o que se alcançou. Mas acho que a sorte que se pode desejar é o abandono alegre desse filho, com a confiança de que será bem adotado pelo mundo. Porque o tônus criativo não ficou preso ali, naquela fotografia, já tomou outro rumo para onde a gente deve o quanto antes dirigir o olhar.
A agenda de Nei
Nei Lisboa começa nesta quarta o lançamento do disco, com noite de autógrafos, às 19h, na Livraria Bamboletras (Lima e Silva, 776 - loja 3), em Porto Alegre. Em seguida, parte em turnê de espetáculos ao vivo. Confira as datas de novembro:
- Dia 14: Teatro Ademir Rosa, em Florianópolis
- Dia 19: Teatro Bom Jesus, em Curitiba
- Dia 21: Clube Comercial, em Bagé
- Dia 26: Theatro São Pedro, em Porto Alegre
- Dia 27: Park Hotel Morotin, em Santa Maria
Eterno retorno
Nei Lisboa revisita o passado recente em "Telas, Tramas & Trapaças do Novo Mundo"
Gravado ao vivo, novo trabalho reúne composições dos últimos 15 anos e terá sessão de autógrafos nesta quarta na Bamboletras
Gustavo Brigatti
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