Seduzir o público é um passo importante para consolidar o cinema de gênero no Brasil, ou pelo menos dar a ele a projeção que já teve no passado, com os filmes de terror de José Mojica Marins, o Zé de Caixão, e, no Rio Grande do Sul, com os curtas de realizadores como Dennison Ramalho. Entre os longas recentes lançados no país com ambição de dialogar com um público mais amplo, o muito bom Quando Eu Era Vivo, de Marco Dutra, o irregular Isolados, de Tomás Portella, e o ruim Amuleto, de Jeferson De, tiveram em comum a passagem discreta pelos cinemas.
A atual produção gaúcha do gênero fantástico contempla um gama variada de vertentes, do banho de sangue evocando o demônio às prospecções futuristas distópicas, do suspense psicológico ao desenho animado.
- Não sei dizer o que o público quer hoje do cinema fantástico. Creio que está havendo uma mudança de olhar sobre o gênero - diz Davi de Oliveira Pinheiro, cineasta e presidente da APTC. - Em meus próximos filmes, quero me aproximar mais do público, buscar uma coisa mais pop, tipo John Hughes no universo cyberpunk. Acredito na transcendência do cinema de gênero.
Especialista no tema, o jornalista Felipe M. Guerra ganhou projeção nacional entre os apreciadores do horror em meados dos anos 1990, quando começou a realizar em Carlos Barbosa, na serra gaúcha, inventivos filmes com baixíssimo orçamento, como Entrei em Pânico ao Saber o que Vocês Fizeram no Verão Passado e a antologia A Maldição do Sanguanel. Para Guerra, a tecnologia permite hoje fazer filmes com melhor qualidade de imagem, maquiagem e efeitos visuais. Mas o público ainda vê a produção nacional de gênero com desconfiança:
- Existe muito preconceito. Dizem que não gostam de filme de terror nacional porque é falado em português, mas daí vão ver Anabelle dublado. Falam que fazemos filmes toscos, mas acham legal ver Atividade Paranormal, que faz sucesso imitando um filme tecnicamente tosco. Não dá para entender.
Taisa Marques e Rafael Duarte, além dos trabalhos de direção em curtas fantásticos como o premiado Caçador (2014) e O Deus Neon (2015, estão à frente, na produtora Machina Filmes, de um trabalho especializado que anos atrás era inexistente no Estado e tem ajudado a fomentar muitas produções: a área de efeitos visuais na pós-produção.
- Oferecer isso no projeto é um diferencial que pode ajudar a viabilização do trabalho, pois envolve, além da técnica, o desenvolvimento de linguagem - avalia Taisa.
A produção para a televisão também está na mira dos realizadores, em projetos como as séries The Walkers, realização coletiva que está sendo tocada pela produtora hype.cg, Horizonte B, aventura juvenil de Emiliano Cunha em produção para a TVE, e Werner e os Mortos, série de ficção com contornos sobrenaturais criada por Gabriel Faccini, Tiago Rezende, Pedro Henrique Risse e André Garcia - a ser exibida no Canal Brasil em 2016.
Entre os realizadores, têm os que procuram apoio nos editais de financiamento de diferentes esferas do poder público, sobretudo os federais ligados à Ancine, mais generosos em verba e abrangentes nos modelos de incentivo. Outros aproveitam os caminhos abertos pela busca dos canais de TV por conteúdo nacional.
- Contar com apoio via edital é uma forma de pagar melhor as pessoas da equipe - destaca Cristian Verardi, que planeja inscrever seu próximos projetos nos concursos para financiamento.
Verardi,porém, destaca que o recurso de moldar um projeto a um edital pode ser limitador da ambição criativa do cineasta. Figura muito admirada pelos admiradores do segmento mais radical do terror, o catarinense radicado em Porto Alegre Petter Baiestorf autor de Zombio 2: Chimarrão Zombies (2013) tem posição firme sobre o tema e segue o modelo consagrado pelas bandas de heavy metal, irmão musical do cinema de horror.
- Não vou atrás de investimento. Prefiro manter minha independência e liberdade. Fiz Zombio 2 com R$ 35 mil. Recuperei o investimento com venda de DVDs no Brasil e no Exterior. Agora mesmo estou enviando um pacote com meus filmes para a Dinamarca. Vendo na minha loja, monto banquinha em shows. E durmo tranquilo.