Quando assumiu a divisão XBox, em março de 2014, Phil Spencer contava 25 anos de bons serviços prestados à Microsoft e era considerado o mais capacitado para uma árdua tarefa: reposicionar o XBox One no mercado e no coração dos gamers. Um ano e meio depois, o console ainda apanha do principal concorrente, o PlayStation 4, mas uma série de ações implementadas por Spencer - como a retrocompatibilidade de jogos com o XBox 360 e a integração com o Windows 10 - devolveram um pouco de amor à "caixa".
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A coluna conversou com Spencer durante sua passagem pela Brasil Game Show, feira de games que terminou na última segunda-feira, em São Paulo.
Quando o XBox One foi lançado, em 2013, parte da campanha de marketing dizia que ele não era apenas o melhor videogame, mas o melhor dispositivo de entretenimento. Hoje, me parece que o foco é totalmente na jogatina eletrônica.
No lançamento do XBox One, a mensagem era que ele seria focado em muitas coisas: jogos, televisão, entretenimento. Não há nada de errado nisso, mas, primeiro, precisamos que seja bem-sucedido sendo um console de jogos. Se ele não for um bom console de jogos, o resto não interessa. Então, para mim, quando me tornei chefe do XBox, o foco era garantir que fosse mesmo a melhor plataforma, o melhor serviço, tivesse os melhores jogos e com a certeza de que teríamos tudo isso com a melhor estabilidade. A gente ainda acha importante ter entretenimento e coisa e tal, porque as pessoas consomem isso o tempo todo, mas, se não ganharmos os gamers primeiro, a gente não ganha. Então, queremos ganhar os gamers primeiro.
A Microsoft aposta alto no mercado brasileiro de games, seja localizando jogos aqui ou fabricando consoles. O que difere nosso mercado dos outros?
O que não é diferente é que o Brasil é um mercado muito grande. Se procuro um mercado para o XBox e vejo um país do tamanho do Brasil, com tanta gente que gosta de videogames e com dinheiro para comprar games, considero um luxo e um mercado no qual devemos focar. O que faz do Brasil diferente é a sua tradição em artes e música, e isto acaba aparecendo no desenvolvimento de jogos. Vejo com muita clareza o crescimento dos desenvolvedores brasileiros e como eles estão deixando sua marca, seu estilo e como podem espalhá-los por todo o mundo. Em termos de estilo, jogos de futebol, obviamente, vão muito bem aqui, (a franquia) Gears of War também. Para mim, é ótimo ver que há uma gama tão grande de jogos que vão bem por aqui e ver que os brasileiros são tão apaixonados por jogos. Pense no tanto de gente vindo para a Brasil Game Show, isso é maravilhoso.
E é compensador, uma vez que somos um mercado tão jovem para essa indústria?
Uma coisa que notei na Brasil Game Show é o público. Ele é bem jovem, muitas famílias vêm juntas, e, como você disse, os jogos não estão aqui há tanto tempo quanto no Japão ou na Inglaterra. Quer dizer, vocês têm muitas famílias crescendo agora, com os videogames fazendo parte de suas vidas. Adoro ver pais com crianças aqui, é realmente legal, porque acho que os videogames devem existir para as pessoas se divertirem, aproveitarem. A gente já trabalha demais, e os jogos não deveriam ser estressantes ou trabalhosos (risos).
Você está na indústria de games há muito tempo e já viu muitas coisas. Que tipo de futuro prevê para os videogames?
Hoje, temos milhões de pessoas no mundo jogando videogames nos seus celulares, em consoles, em PCs, usando realidade virtual, enfim. Há 20 anos, nossa indústria era mais restrita, com gente jogando somente em consoles ou computadores. Mas, agora, temos um público bem mais diversificado, temos um equilíbrio grande entre homens e mulheres, velhos e jovens. E isso vai continuar, você vai ver a jogatina se tornar uma atividade mais mainstream, que vai se igualar ao tempo gasto com televisão e cinema. Será cada vez mais normal as pessoas jogarem videogame com suas famílias. Então, para nós, o grande desafio é pensar como fazer videogames ainda mais acessíveis para pessoas tão diferentes. Por exemplo: para algumas pessoas, os joysticks são complexos demais, não é todo mundo que consegue se adaptar. Então, talvez a realidade virtual venha aí para integrar esse público, que vai poder usar suas mãos ou dispositivos de toque no ambiente virtual. Resumindo, vai tornar os jogos mais acessíveis.
Essa vontade de atingir um público cada vez maior e mais diversificado deve influenciar a indústria como um todo?
Definitivamente. Influencia quando a gente olha para os personagens, influencia quando criamos uma história e influencia a própria equipe que faz um jogo. Há mais trabalho para fazer, mas, se você consegue um mix melhor de pessoas construindo games, você fatalmente irá agradar a mais gente. Até porque, quando a gente desenvolve games, quer que todo mundo jogue, quer que as pessoas gostem da história, dos personagens, não quer que apenas um tipo de público se identifique e tenha acesso. Queremos que seja o mais abrangente possível. E isso não é possível mirando apenas em jogadores homens, por exemplo.
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