Quando moleque, sexta-feira era o dia de alugar fita. Meu irmão, via de regra, pegava algum jogo de esporte, enquanto eu ia para os títulos de ação. De qualquer forma, o importante era que nós dois pudéssemos brincar juntos. A regra era clara: só valia "joguinho de dois".
Agora estamos em 2015. As fitas, claro, foram substituídas pelos Blu-rays e downloads, e as locadoras sumiram do mapa. E eu começo a me perguntar onde foram parar os "joguinhos de dois". Nada a ver com a jogatina multiplayer online, onde você divide a tela com desconhecidos, em uma dinâmica por vezes sacal pela completa falta de sintonia entre as partes.
Leia as colunas anteriores:
Uma chance de redenção para os games no cinema
Uma conversa sobre inclusão de gênero nos games
"God of War" e a diversão pela diversão
Você pensa que está no controle? Pense melhor
Estou falando de um bom beat em up, aqueles joguinhos de ação 2D em que você reparte o sofá com um parceiro (ou mais) para esmigalhar botões e soltar impropérios enquanto desce o sarrafo em capangas genéricos de chefões bizarros - Streets of Rage, Tartarugas Ninja, Double Dragon, Golden Axe, Final Fight, vocês sabem.
Títulos assim eram divertidos não só pelo formato simples e direto (e muito desafiador), mas também porque permitiam a farra coletiva in loco. O limite de dois controles não era problema, pelo contrário: enquanto dois jogavam até perder a vida e passar a vez para o seguinte, os demais se entupiam de refrigerante e salgadinho (o que explica a resposta rápida dos botões, lubrificados que viviam).
E os fliperamas? Cortesias da Capcom, máquinas dos clássicos Captain Commando, Alien vs. Predator e Cadillacs and Dinosaurs disponibilizavam quatro joysticks cada. Mas festa mesmo era X-Men: The Arcade Game, cujo monstruoso gabinete tinha nada menos do que seis alavancas de comando - e, em cada uma delas, filas se formavam a perder de vista.
Hoje, com a óbvia exceção dos jogos de esporte e velocidade, parece não haver mais interesse em lançar títulos de espírito gregário. Nick Puleo, criador do site
Co-Optimus (www.co-optimus.com), especializado em games com modos cooperativos, entende o drama deste colunista como poucos - mas procura olhar para o copo meio cheio.
- Claro que você não vai encontrar muitos blockbusters com co-op, mas os games indies estão ocupando esse filão - diz Puleo, em entrevista por e-mail.
De fato, boa parte dos futuros "joguinhos de dois" que o Co-Optimus adianta está sendo desenvolvida por estúdios independentes. Um deles é o incrível Mother Russia Bleeds, descrito como uma mistura de Streets of Rage com Hotline Miami e que já conta com toda a minha simpatia. A má notícia é que ele só chega em 2016.
Até lá, me digam: o que vocês andam jogando com os seus amigos?
Jogatina
Gustavo Brigatti: onde estão os "joguinhos de dois"?
Games de ação para dividir o sofá com os amigos parecem não ser mais o foco das grandes desenvolvedoras
Gustavo Brigatti
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