A bola parou para Antônio Augusto na Páscoa e todos nós, que tivemos a oportunidade de conviver com o mais destacado plantão esportivo do rádio gaúcho, também paramos no pretérito de nossas existências para lembrá-lo e homenageá-lo.
Totonho, como era chamado por seus colegas nas redações e nos estúdios onde atuou, foi simplesmente o precursor do Tio Google - este mago virtual que satisfaz instantaneamente todos os nossos desejos de informação. Munido de pastas repletas de anotações, era uma verdadeira enciclopédia esportiva. Ouvintes suspendiam a respiração quando ele interrompia o também gigante do rádio Armindo Antônio Ranzolin:
- Tem gol!
E logo informava onde, quando, quanto estava o jogo, quem marcara, quantas vezes, o que significava aquele gol no contexto do futebol e tudo mais que o público precisava saber. Era uma autoridade. Muitas vezes flagrei-o atendendo telefonemas de desconhecidos para esclarecer dúvidas e solucionar brigas de bar.
Quando surgiu a Loteria Esportiva, Antônio Augusto passou a ser o oráculo dos apostadores. Mas foi nos plantões de estúdio que ele brilhou. Fechava-se com seus alfarrábios e ouvia umas 17 emissoras de outros Estados ao mesmo tempo, sem perder a narração dos companheiros. Uma vez, me lembro, surpreendeu a todos ao anunciar que a bola parou.
Quando o locutor perguntou onde, ele brincou:
- Aí no estádio em que você está. Acabou a preliminar, 1 a 0 para...
O público adorava. Francisco Vitorino, que também atuou com desenvoltura no jornalismo esportivo, me mandou um texto no dia seguinte à sua morte, lembrando que ele operava um outro milagre do rádio precário de quatro décadas atrás. Quando as transmissões caíam por problemas técnicos, cabia ao plantão preencher o vazio. Então, aqueles garranchos que só ele entendia se transformavam em preciosidades que mantinham o ouvinte colado no radinho.
Numa época em que não existia celular nem internet, era preciso ser muito repórter para fazer o que ele fazia. Por isso faço este registro. Não ouviremos mais sua voz nas jornadas esportivas, mas aquela pergunta existencial ficará para sempre nas nossas memórias:
- Onde, Antônio Augusto?
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