Existe um gênero musical que está entre os poucos que ainda vendem discos, toca sem parar no rádio, domina as paradas de sucesso na internet e é recordista de arrecadação de direitos autorais. No Brasil, esse gênero atende por um único nome: sertanejo.
Leia outras matérias de música
Sertanejo lidera todos os rankings que interessam
Surgido nas primeiras décadas do século 20, o sertanejo atravessou quase cem anos como o primo pobre da música brasileira, testemunhando a ascensão e a queda comercial de inúmeros estilos - da bossa nova ao axé. Na última década, porém, se transformou em uma patrola que dominou por completo o ecossistema da indústria musical, que hoje praticamente vive em função dele.
- É o gênero mais tocado nas rádios e o que mais movimenta o mercado de shows. Por isso, é o que traz maior faturamento - explica Fernando Lobo, gerente geral artístico da Som Livre, gravadora que nos anos 1980 patrocinou boa parte do rock nacional.
Lobo fala com conhecimento de causa. O casting da Som Livre, que durante anos deu guarida para grandes nomes do pop rock, hoje abriga mais de 30 artistas sertanejos - a maior parte duplas oriundas de Estados do centro do país. O ponto de virada, diz ele, foi na segunda metade dos anos 2000, quando a comunicação entre a música e a massa consumidora jovem se afinou:
- Muitos artistas passaram a adotar temáticas que alcançam gente mais jovem, falando de festas, carros e paquera. E, para completar, a sonoridade ficou pop.
O produtor Dudu Borges é um dos responsáveis por esse novo guarda-roupas da música sertaneja. Do seu estúdio em São Paulo, saíram sucessos de quase todos os grandes nomes do gênero, como Fernando & Sorocaba, Jorge & Mateus, Luan Santana e Michel Teló - deste último, nada menos do que o hit global Ai se Eu te Pego.
- O sertanejo prevaleceu sobre outros estilos porque ousou, se arriscou, não teve preconceitos e fez as conexões musicais necessárias para crescer - opina Borges.
Em 1 minuto, a escalada de sucesso dos sertanejos:
Essas conexões incluem misturas de todo tipo, do axé (Claudia Leitte e Luan Santana em Cartório) ao pop internacional (Paula Fernandes e Taylor Swift em Long Live), passando pela bossa nova (Chitãozinho & Xororó acabam de lançar um disco regravando Tom Jobim). Com isso, transcendeu seu nicho, avançou sobre a audiência desses gêneros e, sem distinguir classes sociais, foi abrangendo um número cada vez maior de adeptos.
O resultado é que hoje os principais artistas sertanejos fazem cerca de 180 shows por ano, com média de 10 mil pessoas por apresentação - e cachês que giram em torno de R$ 175 mil por apresentação.
Para o crítico musical Ricardo Alexandre, a ambição do sertanejo foi outro diferencial para sua popularização.
- O objetivo de gêneros como o sertanejo é colocar música em novela, enquanto o do rock, por exemplo, é tocar no Sesc. Não há nada de errado com nenhum dos dois, mas são caminhos diferentes.
Agora eu fiquei doce
Sertanejo domina o mercado e se torna a nova música pop brasileira
Conexão com o público jovem e abertura para outros gêneros estão entre as explicações para a predominância do gênero
Gustavo Brigatti
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: