A um mês do Oscar (marcado para 22 de fevereiro), é difícil apontar os favoritos a vencer as categorias de melhor ator e atriz - ao menos antes da entrega dos prêmios do Sindicato dos Atores de Hollywood (o SAG Awards), que está marcada para este domingo.
Quanto aos coadjuvantes, não se pode dizer o mesmo: vencedores do Globo de Ouro, indicados ao Bafta (o chamado Oscar britânico, que será no dia 8 de fevereiro) e papa-prêmios das associações de críticos pelos EUA, Patricia Arquette e J.K. Simmons já despontam como favoritos por seus desempenhos, respectivamente, em Boyhood e Whiplash.
Os dois longas, que também estão indicados a melhor filme, entre outras categorias, estão em cartaz em Porto Alegre. A seguir, um pouco mais sobre o trabalho de ambos.
A juventude indo embora
Boyhood é um filme sobre amadurecimento e passagem do tempo - não apenas de seu protagonista, o garoto Mason (Ellar Coltrane), que começa a trama com seis anos incompletos e a termina aos 18. O tempo passa para ele, mas também para seus pais (Ethan Hawke e Patricia Arquette). No caso da mãe, de maneira mais marcante: é com ela que Mason mora, é dela que sua educação depende. É ao lado dela que ele passa as experiências mais intensas entre a infância e a adolescência.
Indicada ao Oscar pela primeira vez, Patricia Arquette só recebeu reconhecimento similar ao de Boyhood pela série Medium, que estreou em 2005. Em 2002, começara a rodar o longa de Richard Linklater. Tinha 34 anos. Hoje tem 46.
A atriz permitiu ao público acompanhar seu envelhecimento em Boyhood. Esse desprendimento, por si só admirável em uma sociedade obcecada pela juventude (e implacável com as mulheres), é potencializado pelo realismo espantoso do filme. Não há como um projeto desse tipo funcionar sem a entrega dos atores. No caso de Patricia Arquette, essa entrega é irrestrita.
As atuações de Emma Stone (em Birdman) e Keira Knightley (O Jogo da Imitação) não são sequer superiores à de Kristen Stewart, que não está indicada mas é da mesma geração, em Acima das Nuvens. Entre as concorrentes, apenas Laura Dern (Livre) tem uma performance acima da média (a quinta indicação pertence a Meryl Streep, por Caminhos da Floresta). Mas nada que se compare à grandeza do trabalho de Patricia Arquette.
Serenidade que assusta
Com 60 anos recém-completados (no dia 9), J.K. Simmons sempre foi um coadjuvante um tanto discreto - em filmes como Juno (2007), Queime Depois de Ler (2008) e Amor sem Escalas (2009). Em Whiplash, virou o jogo: rouba a cena de tal forma que não seria absurda uma indicação como ator principal - é mais ou menos o que acontece, por exemplo, com Steve Carell em Foxcatcher.
A primeira indicação ao Oscar de Simmons veio com aquela que talvez seja sua melhor atuação até aqui. Seu olhar ambíguo é fundamental para tornar críveis as variações de humor do personagem que encarna, o professor de música linha-dura Terence Fletcher. Mesmo nos momentos de tranquilidade que precedem as explosões com seu pupilo, o baterista Andrew (Miles Teller), a musculatura de sua face se tensiona, como se avisando o público: há algo por acontecer.
Intensidade é uma palavra que bem descreve sua atuação em Whiplash. Os espectadores e também a Academia de Hollywood costumam valorizar esse tipo de performance - bem mais do que a discrição, marca das atuações de pelo menos dois de seus concorrentes, Ethan Hawke (de Boyhood), Edward Norton (Birdman). Mark Ruffalo (Foxcatcher) e Robert Duvall (O Juiz) parecem ser seus principais "adversários" na corrida pela estatueta.