Maeve Jinkings, atriz consagrada por O Som ao Redor (2012), e Nash Laila, a jovem intérprete vista antes em Tatuagem (2013), vivem duas personagens antagônicas em mais um ótimo filme pernambucano, Amor, Plástico e Barulho - estreia desta quinta-feira na Cinemateca Paulo Amorim. Enquanto a veterana cantora de tecnobrega interpretada pela primeira depara com o medo da decadência, a dançarina vivida pela segunda vislumbra a possibilidade de ascensão. Contudo, elas têm muito em comum - mais inclusive do que acreditam ter.
É esse espelhamento que interessa a Renata Pinheiro, diretora de arte de filmes como Baixio das Bestas (2006) que aqui estreia na realização de um longa-metragem. Esse e outro: o de uma certa plastificação das relações, que encontra seu duplo na estética artificializada desse gênero musical que ganhou corpo no Nordeste na última década.
As duas integram a mesma banda. Moram juntas. E "pegam os mesmos caras", digamos assim. Quando um galã do tecnobrega troca uma pela outra, parece que vai ganhar corpo uma rixa entre elas. Mas o que fica escancarado é como ambas, ainda que trafegando a estrada do sucesso em direções opostas, encontram-se na mesma encruzilhada: a necessidade de demonstrar poder e independência, que é o que cativa o público, em contraste com as fragilidades escancaradas pelo estilo de vida que escolheram.
No fundo, é da condição da mulher como um todo que Renata Pinheiro está falando. E o melhor de tudo é que ela faz política de maneira mais ampla: as belas imagens de Amor, Plástico e Barulho radiografam a poluição visual da periferia de Recife, ao mesmo tempo em que flagram desigualdade social e crescimento desordenado. Trata-se de um filme potente, à altura dos principais destaques da excelente produção pernanbucana dos últimos anos.
Amor, Plástico e Barulho
De Renata Pinheiro. Com Nash Laila e Maeve Jinkings.
Drama, Brasil, 2013, 90 minutos, 14 anos.
Estreia nesta quinta na Cinemateca Paulo Amorim.
Cotação: ótimo.