Como as coisas se tornam popular é sempre um mistério e na era do ecossistema pós-gênero e da sensação do YouTube, o que cai no gosto do povo continua uma incógnita. O que antes era alternativo, hoje é consumível e vice-versa.
O que não deixa de ser preocupante para o bom e velho rock, o menos tumultuado e inovador de todos os gêneros musicais (sim, incluindo o country). Há anos o hip-hop e dance são muito mais essenciais à gramática do pop do que o rock jamais foi - esse, uma relíquia que está se atrofiando, morrendo no pé. No entanto, continua aí, com gente nova chegando e encontrando formas de disputar um espaço ao sol. O rock clássico é o novo azarão, consistente e conscientemente fora de moda, e talvez o último gênero que ainda consiga se mover em silêncio.
Certamente foi o que aconteceu com o Bastille, grupo britânico que tem Dan Smith nos vocais e se apresentou no Webster Hall em Nova York, em janeiro: há alguns meses vem vivendo uma popularidade incomum, graças em parte à força de "Pompeii", atualmente em décimo lugar na Hot 100 da Billboard, tão bem disfarçado de sucesso pop como há muito não se via.
O Bastille é uma banda relativamente suave e inofensiva que pega os impulsos da corrente New Romantic dos anos 80 e os suaviza consideravelmente até ficar parecido com o soft rock britânico dos anos 2000.
"Pompeii", que tem um toque da era "So" de Peter Gabriel, é, de alguma forma, ao mesmo tempo animada e estoica. Foi o quarto single - pelo menos na Inglaterra - de "Bad Blood" (Virgin), álbum de estreia do grupo, lançado nos EUA em setembro.
Um mês depois, o St. Lucia lançou o seu primeiro trabalho, "When the Night" (Neon Gold/Columbia). O grupo é o projeto do cantor e compositor sul-africano Jean-Philip Grobler, que leva o início e a metade da década de 80 um pouco mais a sério que Dan Smith.
Os dois discos foram lançados da forma mais discreta possível, de um jeito que acabou obscurecendo a popularidade das bandas. O Bastille, que decolou na Inglaterra no ano passado, demorou um pouco mais para ser descoberto nos EUA; o St. Lucia, que ainda não emplacou nenhum sucesso, fez o primeiro de quatro shows em Nova York em 16 de janeiro, no Music Hall de Williamsburg, no Brooklyn.
A maneira como os dois grupos interpretaram seus álbuns no palco variou bastante e deixou bem claras as ambições de cada um. O St. Lucia digitalizou ainda mais seu set de composições de new wave falso e meio entorpecido; na verdade, sua apresentação foi o menor ruído que cinco pessoas tentando produzir som conseguiram. Já o Bastille foi mais vibrante, mais expansivo e meio que se sentindo na obrigação de seguir a cartilha Coldplay de fazer sucessos com refrão chiclete.
O que quer dizer que a banda tem ambições maiores. Às vezes "Bad Blood" é meio grudento, mas, no fundo, é um trabalho frágil. Smith é um cantor com personalidade, mas sem muita força na voz - se bem que tenha se esforçado durante a apresentação para torná-la mais potente, repetindo os tons baixos para dar ênfase. Em "Flaws", chegou a andar pela multidão, dando margem a uma quase adoração.
Duas músicas novas se mostraram mais agressivas que as contidas em "Bad Blood", como se Smith tivesse entendido que é preciso uma durabilidade maior para sobreviver às altas altitudes que sua fama o lançou.
Por outro lado, o St. Lucia se mostra mais focado. As letras são bem claras, mas sem graça e as músicas se parecem muito umas com as outras. Ao vivo, o St. Lucia se aproxima um pouco da alegria irritante e irrestrita do Passion Pit, apostando com gosto na percussão saída da trilha de "Clube dos Cinco". O resultado parece uma coletânea das músicas mais "educadinhas" do Depeche Mode que se pode imaginar, mesmo que "We Got It Wrong" e "September" tenham uma boa pegada.
As duas bandas forçam um entendimento do sucesso que pouco tem a ver com realizações. Ambas são cópias explícitas, estáticas e de pouco peso e isso pode ter tudo a ver com o motivo por que conseguiram encontrar um público-alvo.
Porém, elas mostraram a que vieram ao tocar covers de R&B nos shows. Nos dois casos, as canções foram escancaradas e exauridas - "What Would You Do?" do City High para o Bastille e "Ain't Nobody" de Rufus & Chaka Khan para o St. Lucia, cantada como dueto com a mulher responsável pelo som. Ela levou a melhor. De longe.
Pop por quê?
Bandas alcançam sucesso sem grandes realizações
Bastille e St. Lucia encontraram público alvo mesmo sendo cópias explícitas, estáticas e de pouco peso
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