Quando se trata de astros do pop maduros, já estamos acostumados a ver um tipo de recauchutagem: aquela que envolve alguma mudança no rosto. O DIY Network, porém, descobriu uma fórmula campeã que envolve uma repaginada mais tradicional e combina astros e casas mais antigas.
O canal já exibe Vanilla Ice e seus programas de reformas, mas, em 2014, estreia outros dois que pretendem ditar um novo gênero que é, no mínimo, curioso.
Em "Rev Run's Renovation", o integrante do Run-DMC aparece reformando sua casa de 836 metros quadrados em Nova Jersey. Em abril, Daryl Hall, da dupla Hall & Oates, vai recuperar a glória de uma mansão de mais de 200 anos, em Connecticut, em "Daryl's Restoration Over-Hall".
Para Kathleen Finch, presidente do DIY e do HGTV, os programas vão mudar a maneira como o público encara os astros e como eles vivem
- É fácil imaginar a vida em hotéis luxuosos e ônibus personalizados, mas vê-los no Home Depot escolhendo piso ou a cor do azulejo que vai na cozinha é uma experiência engraçada, que nivela todo mundo.
Há planos para outras atrações semelhantes com gente famosa? Quem sabe "Sting's Castle Hunters International"? O negócio é torcer.
Recentemente fiz uma visita a Rev Run e Hall para saber a quantas andavam suas aventuras com pintores e encanadores.
Há uma alcova com janelas, com direito a tapete de pele de zebra, que faz as vezes de sala de jantar na casa que Joseph Ward Simmons, mais conhecido como Rev Run, divide com a mulher, Justine - e como quase tudo que envolve a vida doméstica do casal, a Sala Chocolate, como ela a chama, é motivo de briga.
- A minha intenção era sentar perto da lareira, bebendo um chocolate quente, admirando a vista, mas a pessoa que fez essas cadeiras não entendeu o espírito da coisa e as deixou muito duras, desconfortáveis.
Joseph Simmons vira para mim e dispara:
- Não acho que teria feito alguma diferença. Minha mulher tem umas ideias peculiares sobre união familiar, sabe?
Justine não se dá por vencida:
- Todo mundo adoraria se reunir aqui para bater papo, pode crer.
A Sala Chocolate, onde o casal estava, é um dos poucos cômodos da casa que não foi destruído pelos pedreiros. Naquela manhã de início de dezembro, o som das lixadeiras e pistolas de pregos enchiam o ar enquanto os operários corriam para proteger o piso da quadra interna de basquete, lixar as paredes de um dos quartos e terminar de instalar a banheira de hidromassagem antes do Natal.
Se a discussão bem-humorada do casal for uma indicação do que vem por aí, "Rev Run's Renovation" estará mais para "I Love Lucy" à base de ferramentas do que os programas politicamente corretos que o DIY leva ao ar. No primeiro episódio, o casal já discordava da decoração que o quarto de Miley, a filha de seis anos, deveria ter.
E Joseph Simmons admitiu não ter nem segurado um martelo durante a produção:
- A verdade é que eu não fiz absolutamente nada.
Em vez disso, decidiu assumir o cargo de "flagelo do orçamento".
Os fãs do reality show da MTV "Run's House" devem reconhecer a casa da família, uma mansão com colunas e entrada imponente na cidadezinha exclusiva de Saddle River; o problema é que, com o tempo, ela começou a se decompor e com a madeira do piso da varanda gasta, geladeira vazando, um portão que já não abria, a família decidiu começar a reforma quando foi procurada pelo DIY para saber se poderia filmá-la.
- Nós gostamos de aparecer na TV. E esse é o nosso dia a dia. A minha mulher gosta de montar coisas e eu não - diz Joseph.
Segundo a porta-voz do canal, Amy Hammontree, o casal arcou com praticamente todos os gastos, embora tenha se recusado a divulgá-los; o DIY "complementou o orçamento para garantir que as alterações pudessem ser exibidas na TV".
Entre outras coisas, mexeram na cozinha, refizeram a varanda e alteraram os quartos, inclusive criando um com ares mais adultos para o filho Russy, de 17 anos, e uma suíte particular, com entrada à base de código, para Diggy, de 18 anos, que já investe na carreira de rapper.
Daryl Hall mexe em casas históricas há tanto tempo quanto faz música. A primeira foi uma quase-ruína colonial do século XVIII na Filadélfia, onde morou com John Oates em 1970. Enquanto formavam a dupla Hall & Oates, refizeram os tetos e lixaram os pisos.
Mais tarde, Hall usou seu status de astro do rock para colecionar construções antigas: a sede de uma fazenda do século XIX em Millbrook, Nova York; uma casa de 1840 em Chelsea, Londres, e outra às margens do Tâmisa, de 1740 e um galpão estilo saltbox de 1662 no Maine, anunciado na revista Antiques & The Arts Weekly como o mais antigo do estado.
- Achei que seria muito interessante e merecia uma olhada. Fui até lá e percebi que precisava de uma boa reforma, mas eu gosto de mexer com essas coisas e fiz questão de deixá-la bem parecida com o original - conta ele.
E acrescenta:
- Ganho duas vezes porque compro por um preço mais em conta e deixo uma joia.
Não faz muito tempo eu o encontrei sentado em uma de suas novas preciosidades - uma casa de 1787, com direito a cerca branca à volta de 16,2 hectares no interior de Connecticut. Do lado de fora, em um frio glacial, os operários levantavam uma nova ala enquanto as câmeras registravam tudo. Pelo visto a filmagem do dia envolvia o cantor que, de óculos escuros e jaqueta grossa, a cabeleira loira bem penteada, saía a cada duas ou três horas para checar o progresso do trabalho - a remoção da antiga pintura das vigas de madeira - e depois voltar para dentro.
A primeira vez que ele viu a casa foi há trinta anos, quando sua irmã morava na propriedade vizinha. Na época, o imóvel, que incluía um lago com direito a cachoeira, estava ocupado.
- A gente costumava vir para cá e a usava como playground. Claro que não a casa em si, só a parte de fora. Fazia piquenique e andava de canoa no laguinho. Era 1980 e eu me apaixonei por esse lugar.
Ele continuou de olho nela e, há alguns anos, ao passar pelas proximidades, descobriu que estava à venda. Na época, ele morava em uma casa antiga que criou desmontando duas residências históricas perto de Hartford, Connecticut - uma de 1774 e outra de 1785 - que foram remontadas para formar uma única estrutura com um celeiro que havia em Dutchess County, Nova York.
Para redecorar uma casa história ele se baseia no princípio de que deve manter tudo o mais próximo possível do estilo original. Como na atual, onde instalou um fogão à lenha de 1880 convertido a gás e projetou a nova ala para que parecesse ter sido construída 40 anos da estrutura principal.
Ela vai incluir uma cozinha grande com quartos no andar superior - uma necessidade, diz Hall, já que o capitão de barcos que construiu a casa, um solteirão, colocou ali um salão de baile, talvez para facilitar seus encontros amorosos. Não seria nem necessário se, na verdade, a casa não se parecesse com um clube noturno e tivesse apenas mais um quarto além desse.
Connor Homes, empresa de Vermont especializada em casas históricas, é a responsável pelo trabalho. David Auth, o CEO, explica que o projeto foi assinado por Hall, que também forneceu a madeira reciclada que será usada na reforma.
- O objetivo é fazer com que a nova ala pareça ter sido construída há séculos, e não apenas há algumas semanas - explica ele.
Televisão
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