De repente, o hobby vira tema de casa, daqueles bons de fazer. Parece mesmo coisa de cinema ver as atividades do ano letivo invadirem as férias.
Depois de participar de uma oficina de cinema, o professor Márcio Kinzeski levou para Capivari do Sul a ideia de fazer um curta-metragem com seus alunos. Nos Limites da Sala de Aula foi produzido na Escola Estadual de Ensino Médio Arthur da Costa e Silva, na qual ele é monitor e educador de cinema.
- Fiz por conta e, no início, os alunos não estavam levando muita fé. Mas, agora, depois de receber até um prêmio, eles já se empolgaram e estão produzindo filmes, inclusive durante as férias - conta Márcio.
É o caso de Henrique Michels e suas colegas de classe Juliara Saraiva dos Reis e Maria Helena Terres, que pretendem fazer um filme sobre o universo escolar.
- Tínhamos uma visão restrita em relação aos métodos utilizados para a realização de filmes. Hoje, notamos que de nada adianta termos o melhor roteiro se não tivermos um bom relacionamento entre a equipe - diz Henrique, já com banca de diretor.
A iniciativa do professor inspirou um festival na escola, realizado em novembro, além de oficina sobre linguagem cinematográfica para os alunos.
- Fazer cinema é bem mais difícil do que pensávamos. Mas, ao vivenciarmos essa experiência, percebemos o quanto é divertido e gratificante, valendo a pena todo o esforço, inclusive nas férias - garante Juliara.
O projeto Primeiro Filme, do cineasta Carlos Gerbase, é uma das faíscas desse movimento visto na escola de Henrique e em outras instituições. Surgiu em 2012, em formato de livro e DVD, destinado a colégios estaduais e municipais do Rio Grande do Sul. Os filmes originados dos exercícios propostos participaram de um festival, realizado este ano. O vencedor foi o curta produzido pela turma do professor Márcio, de Capivari do Sul.
Para Gerbase, havia uma grande necessidade de criar material didático para professores de Educação Artística ensinarem técnicas de audiovisual:
- Os livros que existem para isso são quase sempre acadêmicos, para universitários. Mirei num adolescente de 15 anos que quer fazer seu primeiro filme. Qualquer um pode pegar o celular e fazer um vídeo. Mas a dificuldade hoje é a narrativa, a linguagem.
A busca por superar essa dificuldade é uma preocupação no Colégio Marista São Pedro, de Porto Alegre, que hoje conta com o Clube do Filme, criado pelos professores Alexandre Andrades e Cristiani Fernandes. O projeto deles é temático e chega à quinta edição em 2014. Além de produção, quem participa também tem a oportunidade de ver filmes selecionados pelos professores e até ganhar prêmio, o Pedrito.
- Promovemos uma espécie de alfabetização visual - diz Alexandre.
Projeto escolar vale prêmios
Quem também já tem seu prêmio de cinema, o Tamanduá Dourado, é o Colégio Farroupilha, a partir de uma iniciativa do Centro de Línguas, que criou em 2008 um projeto com um pré-requisito especial: não pode falar português. Em 2009, os alunos Matheus Stedile e Rodrigo Oliveira tiveram seu filme Sleep with the Enemy inscrito (e premiado com menção honrosa) no Ciné-Clap - Festival Nacional do Cinema Escolar e Universitário, realizado em Chartres, na França.
- Além dos filmes, eles precisam entregar os roteiros e fazer cartazes. Nas primeiras edições, precisavam também fazer um trailer para apresentar no meio do ano, e isso deve voltar a acontecer em 2014 - explica a professora Denise Simões Baptista.
O Tamanduá Dourado premia as categorias melhor filme, roteiro, ator, atriz e direção de arte. Só não tem prêmio para quem dirigiu porque, normalmente, essa tarefa é em grupo.
E, claro, tudo vale nota.