Na sua longa entrevista de semanas atrás, o papa Francisco falou de música. Questões de gosto pessoal, não mais. Foi-se o tempo - e faz tempo - em que Igreja e música eram quase uma coisa só, a Igreja indicando o que a música devia ser. Como no caso dos três Gregórios, o I, o II e o XIII. Nos tempos muito longínquos do primeiro milênio, Gregório I estabeleceu regras e suprimiu qualquer sombra de música que não coubesse no cristianismo. Gregório II, cem anos mais tarde, se preocupou com a disseminação da música da Igreja, num processo de macdonaldização que ocultou tradições locais. Gregório XIII, 700 anos depois, ordenou ao compositor Palestrina "revisar, purgar, corrigir e reformar" os livros de música então em uso na Igreja, cheios de "barbarismos, obscuridades, contrariedades e superfluidades como resultado do desajeitamento ou negligência ou mesmo má fé de compositores". Tarefa tão árdua que não seria impossível ter havido alguma manifestação de rua que, em Roma, clamasse por um "Palestrina Livre!".
Sonoridades
Celso Loureiro Chaves: Música e o Papa
Foi-se o tempo - e faz tempo - em que Igreja e música eram quase uma coisa só, a Igreja indicando o que a música devia ser