Está em cartaz a exposição Artistas Ilustradores: a Modernidade Impressa nas publicações da antiga Editora Globo, com curadoria da pesquisadora e professora Paula Ramos, no Centro Cultural CEEE Erico Verissimo. O objeto da exposição é a atuação da Editora Globo e de seus ilustradores na primeira metade do século 20, principalmente os artistas João Fahrion (1898 - 1970), Nelson Boeira Faedrich (1912 - 1994) e Edgar Koetz (1914 - 1969). Adiantamos que se trata da apresentação de um inestimável patrimônio da cultura gaúcha.
Dividida em dois módulos, na sala 1 a exposição se abre com painéis didáticos, profusamente ilustrados, sobre a Editora Globo, sua "Secção de Desenho" e suas coleções. Impossível dizer o que foi melhor, mas destacamos a admirável Coleção Amarela, com capas expressionistas de forte apelo visual. Nesta primeira sala, somos informados de que a Globo, criada em dezembro de 1883, em Porto Alegre, se tornaria uma das maiores editoras do país, principalmente entre os anos 1930 e 1950. Na sala 2, dedicada aos ilustradores, os painéis abordam a produção para o público infanto-juvenil, belamente ilustrada com as vinhetas de Fahrion e Faedrich, bem como as publicações especiais e as capas para a Revista do Globo.
Além de reproduções de capas e ilustrações, a mostra oferece alguns originais de Fahrion, principalmente os desenhos para obras infantis, que, pelo modo como estão exibidos, permitem a comparação entre as reproduções, em tamanho maior, e os originais impressos. Do mesmo Fahrion, destacamos ainda as reproduções das ilustrações para a luxuosa edição de Noite na Taverna (de Álvares de Azevedo). De Nelson Boeira Faedrich, além das reproduções das ilustrações dos Contos Gauchescos e das Lendas do Sul, de João Simões Lopes Neto, outro destaque são os desenhos preparatórios para a edição dos Contos de Andersen. Também estão expostos inúmeros livros, em edições originais e raríssimas, uma oportunidade única de fruir, com a máxima intimidade possível, da proximidade com obras como As Aventuras do Avião Vermelho, de Erico Verissimo (Coleção Nanquinote), maravilhosamente concebida e realizada por João Fahrion.
Na extensa historiografia sobre a imprensa ilustrada no Rio Grande do Sul, iniciada por Athos Damasceno Ferreira, sabemos que, só na Capital, foram publicados 71 jornais e revistas de conteúdo literário no século 19. Iniciada em 1856, com o pioneiro O Guaíba, essa tradição se deu em toda a extensão do Rio Grande, especialmente nos centros mais desenvolvidos e com a participação de ilustradores de grande valor e importância. Destacamos o célebre Sentinela do Sul (1867), que contava com impressão de imagens litográficas dos irmãos Jacob e Ignácio Weingärtner, litógrafos profissionais e irmãos do pintor Pedro Weingärtner, que também chegou a trabalhar como litógrafo.
Não temos do que reclamar no que diz respeito à difusão dessa notável produção, pois ela tem recebido continuada atenção dos nossos estudiosos das mais diversas áreas, tais como o design gráfico, a história da imprensa, da literatura, das artes gráficas etc. Mas a atual exposição tem um diferencial: a historiadora da arte Paula Ramos parte da hipótese de que a instauração da modernidade artística no Rio Grande do Sul se deu a partir da atividade de artistas que transitaram entre as atividades de pintores e de ilustradores, e que uma alimentou a outra na mesma medida e intensidade.
Tendo como foco a visualidade, o projeto curatorial explicita a profícua relação entre arte e ilustração que Fahrion, Koetz e Faedrich estabeleceram, indo um passo além da criação de meras imagens subsidiárias dos textos. Na obra desses artistas, a relação entre imagem e texto está estabelecida a partir de uma visão orgânica do texto como fonte de inspiração, e não somente como fonte de imagem. Além de estabelecer uma nova perspectiva no conhecimento da relação imagem e texto na arte da ilustração no Estado, a mostra amplifica a análise da obra dos artistas, enriquecendo a leitura de suas obras e restabelecendo um caminho para a compreensão da notável comunicação que eles mantiveram com a modernidade e com o público. Sintetizando, pois não temos muito espaço para investirmos na análise das consequências da mostra, podemos parafrasear o notável Armindo Trevisan, que, em entrevista recente, declarou que sua poesia é um conjunto de "sentimentos e emoções materializadas em palavras", e afirmar que a obra desses artistas é o resultado de sentimentos e emoções materializadas em imagens.
Para além das qualidades da mostra, devemos, infelizmente, informar ao público leitor que, dos três artistas que são objetos da mostra, um está ausente. Relevamos aqui as dificuldades que os herdeiros dos direitos autorais dos artistas interpõem entre a obra e seus públicos. Ressaltando o direito legal que esses herdeiros têm sobre os espólios, não concordamos com seus prejulgamentos, estabelecendo critérios de valor e sentenças geralmente arbitrárias e egoístas. Eles não só subtraem aos estudiosos o acesso à obra desses artistas, como impedem ao público em geral o seu direito natural a esse patrimônio rio-grandense.
A notável curadoria de Paula Ramos, justificada em seu relato presente na exposição sobre o seu envolvimento com o tema de pesquisa, dá a real dimensão de um verdadeiro pesquisador: alguém irremediavelmente apaixonado por seu tema de estudo. A mostra também é resultado da excepcionalmente competente equipe organizada pela curadora, o que torna a exposição um marco na história da ilustração no RS. Salientando a esclarecida atuação do Centro Cultural CEEE Erico Verissimo, que nos possibilita essa experiência de inigualável prazer artístico, entendemos que a mostra poderia permanecer em cartaz até a próxima Feira do Livro, permitindo, ao amplo público leitor gaúcho, a oportunidade única de fruir de seu inestimável patrimônio artístico.
Artistas e Ilustradores
> Com o subtítulo A Modernidade Impressa nas Publicações da Antiga Editora Globo, a mostra, com curadoria de Paula Ramos, apresenta livros, revistas, cartazes, pranchas de ilustrações realizadas para a Editora Globo entre os anos 1930 e 1950
> A exposição tem entrada franca, no Centro Cultural CEEE Erico Verissimo (Andradas, 1.223, fone 3226-7974), em Porto Alegre
> A mostra pode ser visitada de terça a sexta-feira, das 10h às 19h, e no sábado, das 11h até as 18h
> Artistas Ilustradores será exibida até 23 de outubro
Artes visuais
Exposição no Centro Cultural CEEE Erico Verissimo recupera o trabalho de três grandes artistas como ilustradores gráficos
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