
Quando Tiago Rivaldo começou a fazer fotos com a técnica pinhole, percebeu que algo ficava de fora das imagens registradas pela lata de metal com um pequeno furo no meio e um papel fotográfico no interior.
Era a situação de envolvimento dos passageiros que o viam posicionando sua câmera fotográfica artesanal dentro dos ônibus de Porto Alegre.
- Sempre surgia uma curiosidade das pessoas que me viam fazendo a foto. E, ao me dar conta de que elas não veriam o resultado, comecei a me interessar ainda mais por esse entorno - diz Rivaldo.
Quinto artista da série de reportagens sobre os 10 gaúchos convidados para a 9ª Bienal do Mercosul, que começa em setembro, Tiago encontrou na fotografia em pinhole um impulso que o motivou a criar os trabalhos de performance e intervenção urbana que marcam sua produção atual.
Nascido em 1976, o porto-alegrense começou a fotografar quando estudava Comunicação Social na PUC-RS. Foi assistente dos fotógrafos Raul Krebs e Paulo Garrido e passou a se interessar por fotografia artística, integrando, ao lado de outros seis artistas, o Clube da Lata, que operou na Capital entre 1998 e 2002. Em 1999, quando já estudava no curso de Artes Visuais da UFRGS, Rivaldo foi selecionado pelo Programa Rumos Visuais Itaú Cultural e, dois anos depois, mudou-se para o Rio de Janeiro.
Além de ministrar cursos, palestras e trabalhar com cinema, Rivaldo tem uma produção artística voltada às relações do corpo com o lugar e o tempo. Enquanto mantém o interesse pela presença própria e do outro na fotografia, também realiza ações urbanas explorando a participação das pessoas. Sempre buscando intervir na ordem cotidiana, em situações em que a fotografia ainda está envolvida, mas deixa de ser assunto principal.
Em Via de Mãos Dadas nº1, Rivaldo leva sua bicicleta ao encontro de outro ciclista. Ele retira uma das rodas traseiras e propõe encaixar sua bicicleta à outra. Do desafio de tentar pedalar em dupla, surge uma performance que Rivaldo reedita seguidamente e cujos registros em fotos podem ser conferidos no seu Tumblr:
- É preciso aprender a andar. Demora, mas a gente consegue. Disso vem minha vontade da intervenção urbana e do aspecto performático para chamar a atenção para algo estranho, pensando na transformação da percepção. Quero que o trabalho toque o outro e não simplesmente resulte em algo que se coloque na parede para ser visto. Quero que o público se envolva na construção do trabalho.
9ª Bienal do Mercosul realiza viagens pelo Estado Essa ideia de arte participativa ganha ainda mais força em um dos trabalhos recentes de Rivaldo, realizado em colaboração com a artista portuguesa Susana Guardado. Em Personal DJ, eles se valem novamente do princípio fotográfico da câmara obscura, a exemplo do pinhole. No lugar das latas, usam caixas de papelão com cavidades laterais nas quais duas pessoas devem colocar os seus rostos. Dentro da caixa, cada um vê a paisagem que está atrás de si projetada de forma invertida no rosto do outro.
- Percebemos que as pessoas tentavam enquadrar o que viam dentro da caixa. Nesse movimento, pareciam dançar. Daí veio a ideia de fazermos essa intervenção urbana com música, com banda, para todos dançarem - diz Rivaldo.
Pela 9ª Bienal, Rivaldo participará, no próximo dia 24, do Island Session, projeto que leva artistas e convidados à Ilha do Presídio, no Guaíba:
- Estou gostando da ideia de ir lá para descobrir algo, pensando nessa relação do presídio e da ilha. Meu trabalho tem, com bastante frequência, essa relação eu/outro, dentro/fora, em relação ao espaço. Vou levar essa intenção à ilha.
A série
> 9 de julho - Fernando Duval (1937, Pelotas)
> 16 de julho - Danilo Christidis (1983, Porto Alegre)
> 22 de julho - Fernanda Gassen (1982, São João do Polêsine)
> 29 de julho - Leonardo Remor (1987, Getúlio Vargas)
> 5 de agosto - Tiago Rivaldo (1976, Porto Alegre)
Até setembro
> Katia Prates (1964, Porto Alegre)
> Leticia Ramos (1976, Santo Antônio da Patrulha)
> Luiz Roque (1979, Cachoeira do Sul)
> Michel Zózimo (1977, Santa Maria)
> Romy Pocztaruk (1983, Porto Alegre)