
Enquanto as ruas eram tomadas pelas manifestações de junho, Luiz Roque imaginava um futuro próximo. O artista filmava, em uma Porto Alegre em dias de protestos, uma ficção científica que projeta a cidade no ano de 2030 e versa sobre a transexualidade.
Um dos 10 artistas gaúchos convidados para a 9ª Bienal do Mercosul, que começa no dia 13, Roque apresentará o filme Ano Branco no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs). Com duração de sete minutos, o trabalho parte de questões que envolvem transidentidade e transgênero.
- É um filme inspirado nas pessoas que querem fazer cirurgia de mudança de sexo ou que, de alguma maneira, mudam o corpo - conta Roque.
Ano Branco é um dos projetos encomendados pela Bienal a artistas que estão sendo levados a trabalhar em colaboração com indústrias e centros de pesquisa (leia mais no texto ao lado). Roque passou um mês na PUCRS. Na Engenharia, onde há estudos sobre automação e robótica, ele encontrou imagens e referências para o robô que é personagem de sua ficção científica.
- Nessa espécie de residência artística em ambientes científicos, recolhi informações e matéria-prima para o filme - conta o artista.
Nascido em 1979, em Cachoeira do Sul, Roque estudou Comunicação e Artes Visuais na UFRGS, frequentou o espaço Torreão e, em 2009, mudou-se para São Paulo. No Exterior, Roque já participou das coletivas Video Links Brazil, na Tate Modern de Londres, e Constructions Views: Experimental Film & Video from Brazil, no New Museum de Nova York. Também foi convidado da 12ª Bienal da Imagem em Movimento, em Genebra. Em 2011, o artista foi à Coreia do Sul realizar o filme The Triumph, em que projeta a unificação das Coreias imaginando um evento esportivo no ano de 2076.
Roque acaba de voltar de uma mostra individual em Nova York, na galeria envoy enterprises (assim mesmo, em minúsculas). O convite veio de um curador americano que viu um trabalho seu em São Paulo. E até 25 de setembro, o artista gaúcho apresenta, na galeria Bolsa de Arte de Porto Alegre, a videoinstalação Projeção 0 e 1, que já passou por São Paulo, Belém, Recife e Rio de Janeiro pelo Rumos Itaú Cultural. Em novembro, depois da Bienal, será a vez do 18º Festival de Arte Contemporânea Sesc - Videobrasil.
A produção de Roque se situa na porosa área de encontro entre cinema, fotografia e artes visuais - daí as participações no festival Cine Esquema Novo, da Capital. Seus trabalhos não são voltados às salas de cinema, mas se tornam filmes por apresentarem narrativa e elementos da linguagem cinematográfica, como roteiro, fotografia, atores, trilha e montagem.
- Meu pensamento vem da imagem em movimento. E hoje percebo que muito disso vem do fato de eu ter sido uma criança vendo televisão nos anos 1980. E isso é muito importante para o modo como vejo e trabalho com imagens - conta.
Em seus trabalhos, Roque cria atmosferas atemporais a partir de "ruídos técnicos" obtidos com recursos artesanais e low-tech. No filme O Novo Monumento (2013), apresentado na sua recente individual em Nova York, o artista buscou um registro em preto e branco granulado, filmando com película de 16mm. O trabalho, produzido durante residência artística em Belo Horizonte, desenvolve um ensaio audiovisual em torno de uma escultura de Amilcar de Castro com sequências de música, dança, paisagens e coreografias com motociclistas.
- Passado e futuro são coisas muito abstratas, portanto próximas, e têm muito a ver com arte, com o ato de criar. Sempre procuro tirar uma narrativa a partir da imagem, pensar o futuro em preto e branco, tentar embaralhar essas camadas de tempo.
A série
> Fernando Duval (1937, Pelotas)
> Danilo Christidis (1983, Porto Alegre)
> Fernanda Gassen (1982, São João do Polêsine)
> Leonardo Remor (1987, Getúlio Vargas)
> Tiago Rivaldo (1976, Porto Alegre)
> Katia Prates (1964, Porto Alegre)
> Michel Zózimo (1977, Santa Maria)
> Luiz Roque (1979, Cachoeira do Sul)
Até setembro
> Leticia Ramos (1976, Santo Antônio da Patrulha)
> Romy Pocztaruk (1983, Porto Alegre)