
No verão de 2012, o Margs exibia em suas paredes uma exposição de Katia Prates com fotografias de... paredes.
Três anos antes, a artista havia apresentado na Usina do Gasômetro uma série sobre o céu, na qual se via, em grandes ampliações, imagens de um dia sem nuvens. Tudo azul, só azul.
Pode parecer que a intenção era criar estranhamento ou provocação, e de alguma forma acabou sendo. Mas a proposta da artista é deslocar imagens tão próximas como paredes, céu e paisagens para evidenciar certa riqueza que escapa ao olhar.
Sexta artista da série sobre os gaúchos na 9ª Bienal do Mercosul, Katia alia processo criativo e pesquisa acadêmica, relacionando seus trabalhos a questões teóricas. Nascida em 1964, a porto-alegrense se formou em Artes Plásticas na UFRGS, onde ainda fez mestrado e doutorado, e também estudou na School of The Art Institute of Chicago, nos EUA, e na University of Oxford, na Inglaterra. Desde os anos 1980, participou de exposições em Porto Alegre, São Paulo, Recife, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Sua individual mais recente é a citada na abertura deste texto, no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs).
Depois de obras tridimensionais e instalações, Katia passou a se dedicar à fotografia. Tal mudança ocorreu após um trabalho que ela reconhece ser um ponto de desdobramento em sua produção. Foi a instalação Espírito, apresentada em 1995 no Torreão, espaço que, ao longo de 16 anos, marcou a produção e o debate da arte contemporânea na Capital.
- Enchi de fumaça uma sala. Tudo ficou branco e não se via a luz, que rebatia na fumaça, nem o que estava na frente. As pessoas perdiam a percepção visual. Quem viu ficou um pouco abalado. A reação das pessoas me levou a pensar questões óticas envolvendo percepção - diz Katia.
Com a fotografia, a artista hoje se interessa por temas como paisagens e horizontes. Vem daí a produção que ela mantém atualmente, tendo nas séries um imperativo que guia seu processo de criação:
- As paisagens têm um jogo geométrico, e os horizontes são formados por linhas e massas que indicam certa geometria também.
Estudando a paisagem, Katia chegou à pintura holandesa do século 17. E, da mesma forma, à natureza-morta, interessando-se não pelos objetos representados, mas pelo fundo das imagens - ou seja, as paredes:
- Passei a pensar sobre as teorias que tratam esse fundo das naturezas-mortas como nada, coisa nenhuma, e as que tratam como um lugar onde o infinito e o divino se encontram. São pontos de vista totalmente opostos.
Na 9ª Bienal, Katia participa dia 12 de setembro do projeto Island Sessions, que leva artistas à Ilha do Presídio, no Guaíba. A intenção, diz ela, é trabalhar a ilha como metáfora:
- A própria ideia de ilha é de separação. Tenho pensado em imagens enevoadas, um pouco distantes. Isso está me interessando para este trabalho da Bienal. Na verdade, ainda tateio aquela névoa, estou sempre retornando à aquela fumaça da instalação no Torreão.
A série
> 9 de julho - Fernando Duval (1937, Pelotas)
> 16 de julho - Danilo Christidis (1983, Porto Alegre)
> 22 de julho - Fernanda Gassen (1982, São João do Polêsine)
> 29 de julho - Leonardo Remor (1987, Getúlio Vargas)
> 5 de agosto - Tiago Rivaldo (1976, Porto Alegre)
> 12 de agosto - Katia Prates (1964, Porto Alegre)
Até setembro
> Leticia Ramos (1976, Santo Antônio da Patrulha)
> Luiz Roque (1979, Cachoeira do Sul)
> Michel Zózimo (1977, Santa Maria)
> Romy Pocztaruk (1983, Porto Alegre)