Diante de uma mesa, duas cadeiras parecem prestes a cair.
Estão equilibradas por um cabo de aço, que sustenta uma lâmina de vidro atravessando a mesma mesa, e também pelo peso de blocos de concreto que, cuidadosamente, Túlio Pinto coloca sobre os dois assentos. Ele acomoda 28 deles em cada cadeira, peso exato para o estado de suspensão que o artista busca na montagem da escultura Territórios.
A obra faz parte da exposição De Territórios, Abismos e Intenções, que será inaugurada terça-feira (02/07), às 19h, para convidados e ficará aberta para visitação gratuita de quarta-feira (03/07) até 4 de agosto, no Santander Cultural, em Porto Alegre. É a última mostra do projeto RS Contemporâneo, que apresenta artistas gaúchos com produção atual - neste ano, os outros foram Nathalia García e Marília Bianchini. A terceira edição da iniciativa está confirmada para 2014.
Assim como na escultura Territórios, a ideia de tensionamento de limites percorre os outros trabalhos na mostra de Túlio Pinto. São obras situadas entre a escultura e a instalação, que confrontam rigidez e fragilidade a partir de materiais como madeira, cabos, vidro, concreto, granito e chapas de aço. Articulando processos minimalistas e conceituais que ampliam a noção tradicional de escultura, o artista remete a referências de Richard Serra a Giovanni Anselmo, de Waltercio Caldas a José Resende. As estruturas que Túlio elabora sugerem sistemas de mecânica estática e dinâmica. É como se equações pudessem fornecer explicações matemáticas sobre as situações de equilíbrio e suspenção que cria.
Na escultura Abismos, há também uma mesa. Em uma das extremidades do tampo, uma grande lâmina de vidro permanece erguida pela força de um cabo de aço preso a um cubo de granito que está na outra ponta. É, nas palavras da curadora Clarissa Diniz, um "estar em situação", algo que também se constata na instalação Intenções. Pendurado em um andaime, um saco de grãos se esvazia como uma ampulheta, transferindo seu conteúdo para uma bandeja. Presos por cabos em roldanas, ambos movimentam grandes chapas de aço com suas mudanças de peso.
- Estou fazendo experiências. As coisas acontecem na hora, a partir dos materiais, dos objetos, de encaixes, equilíbrios - diz Túlio, sobre a montagem dos trabalhos na Galeria Superior do Santander. - Tenho uma ideia, um ideal de funcionamento. Pode ser que aconteça ou seja diferente. É coisa de perceber o peso das peças e os balanceamentos que oferecem.
Brasiliense nascido em 1974, radicado em Porto Alegre e com diversos prêmios e exposições pelo país, Túlio é um dos artistas destacados da atual cena gaúcha. Tem formação pelo Instituto de Artes da UFRGS e é um dos criadores do Atelier Subterrânea, misto de galeria e grupo de produção artística. Começou com desenho e pintura - ele apresenta algumas obras na exposição - e ampliou sua produção para linguagens como escultura, instalação e performance. Quase sempre sem separar uma da outra, criando trabalhos que se desdobram em outros. Os blocos de concreto da escultura Territórios, por exemplo, são os mesmos de Transposição (2012), ação que envolveu o transporte de 6 mil unidades em carrinho de mão, ao longo de 20 dias, da Praça da Alfândega para a Casa de Cultura Mario Quintana.
- Há uma retroalimentação, um trabalho acaba dando deixa para que outros aconteçam - diz Túlio.
Antes da mostra do Santander, ele fez uma residência artística em deslocamento no Rio Grande do Norte, correndo 487 quilômetros em 20 dias, entre Tenente Laurentino Cruz e Natal. A rota foi uma tentativa de percorrer o traçado da proporção áurea no mapa do estado nordestino. E os desenhos feitos ao longo do percurso ganharam exposição:
- A força existe no estático e no dinâmico, um é apenas mais silencioso que o outro. Ficar aberto para a imprevisibilidade do percurso é a principal coisa que me motiva no fazer artístico. Talvez seja minha principal matéria-prima.
DE TERRITÓRIOS, ABISMOS E INTENÇÕES
> Abertura terça-feira, às 19h, para convidados. Visitação de quarta-feira até 4 de agosto, de terça a sábado, das 10h às 19h, e domingos e feriados, das 13h às 19h.
> Santander Cultural (Rua Sete de Setembro, 1.028), em Porto Alegre, fone (51) 3287-5500.
> A exposição: na Galeria Superior do Santander, Túlio Pinto apresenta obras que se situam entre a escultura e a instalação, usando objetos e materiais cotidianos.