Sucessos das pistas de dança como "Waterloo", "S.O.S." e "Gimme! Gimme! Gimme! (A Man After Midnight)" são onipresentes desde que foram gravados há mais de 30 anos pelo ABBA, o popular quarteto sueco. Porém, se a música está em todo lugar, o mesmo não acontece com os integrantes da banda. Em particular, faz quase uma década desde que os ouvintes tiveram notícias pela última vez de Agnetha Faltskog, a cantora cuja voz característica ajudou a dar ao ABBA seu despreocupado charme escandinavo.
Aos 63 anos, Faltskog voltou com o lançamento de "A" (Verve), seu primeiro álbum com material novo desde 1987. Lançada em 14 de maio, a coletânea de canções tem o som familiar do ABBA, mas as baladas sobre amores que deram errado (e até mesmo uma música de discoteca) têm a ver com suas décadas de experiência acumuladas. Durante recente conversa telefônica, a cantora, em Estocolmo, falou da sua reestreia na música e por que os fãs precisam aceitar o fato de que o ABBA nunca voltará a se reunir. Aqui estão trechos dessa conversa.
Tudo que sei da Suécia, aprendi com suas músicas e os livros de Stieg Larsson. Do que mais eu preciso ficar sabendo?
Para começar, o clima. É horrível. Ainda temos neve e inverno aqui, e ainda estamos esperando pela primavera. Está realmente começando a dar nos nervos.
Quando se fica quase uma década sem lançar um disco novo, você começa a pensar que talvez nunca mais grave outro?
Este álbum não foi planejado. Quando fiz meu disco anterior, "My Colouring Book" (um álbum de covers), pensei que seria meu último. Agora, no entanto, sei que nunca se deve dizer nunca mais. Quando ouvi as três primeiras canções, senti que tinha de gravar.
Ficou com medo de estar fora de forma?
Enquanto vou envelhecendo, nunca se sabe como a garganta ou a voz vão soar. Então eu falei para os meninos - a equipe de produção - que precisaríamos ouvir com muita atenção. Se soasse velho, eu não ia querer fazer. Senti a garganta meio enferrujada. Então, fiz algumas aulas de canto, voltei a trabalhar com os músculos abdominais. Era mais uma forma de respirar - recuperar a força da barriga e não usar a garganta em excesso. Quando recuperei isso, funcionou muito melhor.
Você cantou um pouco durante esse intervalo?
Só canto por curtição. Tocando piano com meus netos. No banheiro. Contudo, não estava fazendo nada grande.
Várias músicas do álbum são sobre amores que deram errado ou pessoas com medo de amar mais do que são amadas.
Sim, é sempre assim, não é? Nas músicas. Também existem canções mais animadas, mas eu gosto de cantar baladas. Quando gravo, me sinto numa bolha. Naquela hora, não tem outra coisa na minha cabeça. É apenas aquela música, e me esforço para soar como o tema da canção.
Numa das músicas, "I Was a Flower", você canta sobre perder a inocência e a beleza. Realmente se sente assim consigo mesma?
Não tem a ver comigo. É como interpretar um papel num filme. Em vez de interpretar com o corpo e o rosto, você tenta soar como a música. Essa música, em especial, é muito trágica. Acho que é mais fácil obter esse sentimento nas músicas agora, quando se tem tanta experiência de vida e muito a dar, em termos de sentimentos. (É possível se ouvir o som de uma agitação.) Só um instante. Desculpe, meus dois cachorros estão fazendo barulho por aqui. Um deles acabou de escapar. Eu tenho um pug e um cão tchecoslovaco chamado prazsky krysarik. Então, eles estão fazendo um pouco de barulho por aqui.
Eles a acompanham ao estúdio?
Tentei fazer isso no começo, mas eles ficam meio nervosos com toda aquela música e por não contarem com minha atenção em tempo integral.
Existem muitos recursos tecnológicos sendo usados pelos artistas para ressaltar os vocais. Ficou tentada a experimentar um pouco?
Não, não precisamos disso. Entretanto, depende do tipo de cantor que se é. Quando existe muita dança, também é bacana ver isso. Às vezes, você se apresenta ao vivo e aí dá para ouvir que não são cantores tão bons. Existem muitos artistas que adoro, que considero talentosos e, também, bons dançarinos. Sempre desejei poder misturar isso. Contudo, só me vejo como artista de estúdio, e creio que nós éramos assim na época do ABBA. Não é muito fácil olhar para nós, mas eu gostava muito de nos escutar.
Você vai fazer shows para promover o novo disco?
Não. Não vou cantar nem fazer nada disso. Não sou mais tão jovem. Não tenho energia para tanto, nem quero viajar muito.
É um sentimento agridoce abrir mão disso?
Não, não sinto nem um pouco de falta disso. Às vezes eu gostava, mas sempre era muito, muito cansativo. E nós fizemos tantos shows. Trabalhei como cantora solo muito tempo antes de formarmos o ABBA. Assim, já fiz o suficiente disso na minha vida.
Por que decidiu batizar o novo álbum de "A"?
É, não foi ideia minha. Os meninos inventaram o título - vamos chamar de "A". Eu não me convenci de imediato. Agora, já me acostumei e tudo bem por mim. É a primeira letra do meu nome e a primeira letra de ABBA. Essa sou eu. Por que não?
É claro que isso leva a questões sobre se você e os outros membros do ABBA um dia vão voltar a se reunir.
Creio que temos de aceitar que isso não irá acontecer porque estamos velhos demais e cada um de nós tem sua própria vida. Já se passaram longos anos desde que nós paramos e realmente não tem sentido nos juntarmos novamente.
Porém, quando você encontra seus antigos colegas de banda, em eventos como o "Mamma Mia!" ou qualquer outro, é agradável revê-los?
Ah, sim. Nós vivemos tantas experiências juntos. É sempre legal nos vermos de vez em quando, conversar um pouco e matar a saudade.
Só que sem exageros?
Não, sem exageros. Você tem razão.
Quando está andando de carro com o rádio ligado e de repente toca "Dancing Queen" ou outra canção do ABBA, você desliga na hora?
Eu não desligo. Já houve época em que estávamos fartos da música do ABBA. Tanto Frida (Lyngstad) quanto eu ficamos anos após o fim da banda sem ouvir nada. Depois, alguns anos se passaram e não tenho problemas em ouvir novamente.