
Em um ano próspero para a ópera em Porto Alegre, com uma quantidade de encenações locais poucas vezes vista nos últimos tempos, a série Concertos Comunitários apresenta uma versão de La Bohème, de Giacomo Puccini (1858 - 1924), uma das obras mais populares do repertório lírico.
Com regência do maestro argentino Mario Perusso, à frente do Coral e da Orquestra Filarmônica da PUCRS, a montagem terá sessões nesta sexta-feira (28/9), às 20h, e sábado e domingo (29/9 e 30/9), às 16h, no Salão de Atos da PUCRS, em Porto Alegre. Os ingressos custam R$ 30 e R$ 70.
Também da Argentina vêm o barítono Luis Gaeta e a soprano Maria Victoria Gaeta. Completam o quarteto de protagonistas a soprano Adriana de Almeida e o tenor Marcello Vannucci. Será um espetáculo de grande porte, envolvendo 220 pessoas, entre artistas e integrantes da equipe técnica, com participação do Ballet Concerto e do Projeto Meninas Cantoras do RS.
O libreto, assinado por Giuseppe Giacosa e Luigi Illica (colaboradores de Puccini em outras óperas célebres, como Tosca e Madama Butterfly), é ambientado na Paris de 1830 e conta as histórias de amor do poeta Rodolfo pela jovem e solitária Mimi e do pintor Marcello por Musetta, uma antiga paixão. Entre encontros e desencontros, eles vivem um enredo que combina comédia e drama, culminando no trágico fim de Mimi. Estreada em 1896, em Turim, La Bohème é um testemunho da fase final dos três séculos de soberania da ópera italiana na Europa. Admirador do conterrâneo Giuseppe Verdi (1813 - 1901), Puccini teve despertada a vocação para o gênero assistindo a uma performance de Aida em 1876, em Pisa.
Mas o que explica a permanência da obra-prima de Puccini no repertório operístico?
- É uma história sobre personagens realistas, com sentimentos por vezes contraditórios, diferentemente da ópera idealista de heróis e princesas, mocinhos e bandidos. Talvez por isso, o público se identifique tanto - responde a soprano Adriana de Almeida, diretora do Instituto de Cultura Musical da PUCRS.
Adriana acrescenta que esta é uma oportunidade de apresentar La Bohème ao público jovem que ela identifica entre os espectadores da série Concertos Comunitários. O título havia sido encenado pelo instituto em 1998. Com melodias assobiáveis, é uma obra marcante sobretudo do ponto de vista musical. Árias como Che Gelida Manina e Quando men Vo (conhecida como "valsa de Musetta") são familiares mesmo do público menos próximo do universo lírico.
A montagem agradará ao público que não gosta de invencionices. Cenografia e figurinos seguirão a atmosfera do século 19. O que haverá de diferente em relação a montagens anteriores produzidas pelo instituto é a estrutura giratória sobre a qual estarão os cenários. A troca de ambientações será feita em cena aberta. A ideia esteve presente, como lembra Adriana, em uma montagem de O Barbeiro de Sevilha, em 1991, mas com "menos sofisticação". A diretora cênica Victoria Milanez observa:
- Puccini trabalha a comédia e a tragédia de maneira genial, às vezes em um mesmo ato. Elaboramos uma movimentação mais dinâmica dos solistas e do coro no palco, distante da maneira cerimonial que tradicionalmente se vê. Aqui, eles caminham, atuam, gargalham. Assim, a ópera fica mais próxima do público.