Na terça-feira, a diretora e produtora Vanja Ca Michel, 52 anos, vai dar sua última aula de teatro, em uma escola particular, para se dedicar exclusivamente aos palcos. O motivo é a peça Adolescer, sucesso de público que ela estreou despretensiosamente em 2002 e agora toma 90% de seu tempo.
Hoje, às 21h, e amanhã, às 18h, o aniversário de uma década será celebrado em apresentações no Teatro CIEE, na Capital.
Acostumada a trabalhar com crianças, Vanja começou a ensinar a arte da representação para adolescentes por um convite inesperado da coordenação do colégio onde trabalhava em 1985. O primeiro ano foi "horrível":
- Comecei a estudar, pois não entendia nada a respeito dos adolescentes. Li muitos livros, conversei com psiquiatras, fiz cursos sobre prevenção do uso de drogas. Estudei tanto que criei a peça.
Adolescer é uma sequência de cenas - dinâmicas como a era da internet - que trata de angústias sobre relacionamentos, sexo, preconceito, drogas e conflitos com os pais. Tudo com humor, apesar de trechos sérios, de teor educativo. O título foi tomado emprestado de um livro do psiquiatra José Outeiral, que fará uma participação especial em cena na apresentação de amanhã.
Pouca coisa restou do texto original, assinado pela diretora com fragmentos de autores como Moacyr Scliar e Drummond. Em 10 anos, foram mais de 30 versões. Na de 2002, os jovens da peça se comunicavam por mIRC - se você tiver que procurar a expressão no Google, faz parte de uma nova geração de espectadores. Depois, veio o MSN, o Orkut e o Facebook. Vanja acredita que, se o espetáculo não refletir as questões aqui e agora, perde sua razão de ser. Ela é igualmente exigente com os 11 atores. Em 2008, demitiu todo o elenco por julgar que havia se acomodado. Arregimentou novos profissionais e reestreou pouco tempo depois. O time atual tem entre 19 e 27 anos, com exceção de uma atriz de 16 anos e do experiente João Carlos Castanha.
Sem apoio de grandes projetos que viabilizam a circulação e a manutenção de espetáculos, Adolescer encontrou uma fórmula eficaz de sustentação. O grupo realiza pelo menos seis apresentações mensais exclusivamente para turmas de escolas. Também atua em eventos promovidos por secretarias de cultura e de educação e em congressos de psicologia e áreas afins. Em 2011, segundo a diretora, o público chegou a 18,5 mil pessoas.
Além de excursionar pelo Estado, o grupo esteve em Santa Catarina e em São Paulo. Vanja afirma que jamais contou com financiamento por meio de leis de incentivo do poder público. Até dezembro, no entanto, tem a chance de captar verba para um projeto de circulação por sete Estados, de Santa Catarina à Bahia, por meio da Lei Rouanet. Mas não acredita que conseguirá.
- Fizemos contato com mais de mil empresas. Elas dizem que querem patrocinar uma peça "social". Não sei o que entendem por isso. Adolescer é totalmente social - defende.
Por ocasião da primeira versão, em 2002, Vanja ouviu de seus pares que fazia "teatro comercial". Em duas cenas, há merchandising de marcas de produtos para o público jovem. Ela diz que o espetáculo se sustenta, em parte, de apoios como estes. Reclama que há preconceito no meio teatral com o trabalho que realiza.
- Muitos que não conhecem dizem que não é o tipo de peça de que gostam. Aí decidem assistir e concluem: "É completamente diferente do que eu pensava"
Maturidade
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Diretora Vanja Ca Michel abandonará docência para se dedicar exclusivamente aos palcos
Fábio Prikladnicki
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