Camisetas, calças de couro ou jeans rasgados, óculos escuros, botas, coturnos e, quem sabe, cartola. Todas pretas. Cabelos compridos, bandana, correntes, munhequeiras, anéis. O visual indica que só pode ser um grupo de hard rock. De fato, tem lá suas inspirações. Mas a Banda Rosa’s também é bailão. Também é autoajuda. E o que for necessário para engajar o público e garantir a festa.
Com sua origem em Estrela, no Vale do Taquari, a Rosa’s é, possivelmente, a banda de rock do Estado que tem realizado mais shows por mês. Em outubro, por exemplo, foram 29 apresentações. A média costuma superar as duas dezenas.
Além de estradeiro, o grupo tem seu lado empreendedor, criativo e até altruísta: promove apresentações em escolas com parte da verba destinada à instituição, partidas de futebol beneficente e palestras-shows. Quando os estabelecimentos estavam fechados ou limitados pela pandemia, viajavam em uma Kombi e se apresentavam em frente ao veículo, onde quer que fosse.
Composta por Nando Rosa (voz), Diogo Mallmann (guitarra), Giu Lucotti (teclado), Michel Presser (bateria) e Moisés Pelegrini (baixo), a Rosa’s foi criada em abril de 2020. Antes, Nando, Diogo e Michel integravam a Banda Barbarella. Fundado nos anos 1970 em Arroio do Meio, o grupo já trabalhava essa proposta de pop rock com pé no bailão.
Quando a pandemia chegou e os músicos tiveram de interromper as atividades, Nando decidiu montar um projeto próprio com os outros dois integrantes. O vocalista chamou Moisés para ser baixista por conta de um sonho, em que via o músico em seu grupo com o instrumento. Apesar de não tocar baixo desde a adolescência (era então guitarrista), ele topou. Giu completou a Rosa’s. Todos já tinham experiência prévia em bandas de baile do Estado.
— Éramos funcionários nos outros grupos, sem o poder de decisão das coisas — resume Nando.
No início, a banda lutou muito para sobreviver. A Rosa’s realizava lives e se propôs a criar uma música por mês. Quando bares foram reabertos com restrição de público, às vezes só um integrante se apresentava, mas todos ganhavam cachê. Amigos e fãs ajudaram.
— Chegamos a abrir uma live à noite para pagar uma conta de luz que venceria no outro dia — recorda Nando. — Colocamos uma chave pix na tela, e a galera já mandou, assim. Do nada, R$ 800, meu Deus! Um já chorava, outros se abraçavam. Foi muito emocionante aquele período.
Ao longo do primeiro ano, dentro do que foi possível, a Rosa’s estima ter feito pouco mais de 40 shows, além de ter lançado seis músicas. Até que apareceu uma Kombi.
Da Kombi para o DVD
Diogo, que integra uma família de chapeadores e trabalhou com o ofício, é apaixonado por carros antigos. Um dia ele se encantou com a Kombi de um amigo.
— Como não tinha grana, foi feita a oferta: se eu ajeitasse o carro dele, levava a Kombi. Entrei com a mão de obra — conta o guitarrista. — Até que em uma saída para um show em Canoas, meu carro não funcionou. Sempre partíamos em dois veículos. Tivemos que sair de Kombi.
Surgiu a ideia da Kombi da Rosa’s. Basicamente, a banda improvisava um palco em frente ao veículo, onde quer fosse — quiosque, piscina, aniversário, chácara, calçada.
O projeto teve início em janeiro de 2021. Em junho daquele ano, a Rosa’s lançou seu primeiro DVD, Sem Cortes, gravado em Estrela, mas sem público. Com a chegada da vacina, no segundo semestre, os shows apareceram de vez.
— Começamos a tocar de sol a sol, para pagar os boletos do ano anterior — relata Nando.
A Kombi foi aposentada em 2022, quando a Rosa’s passou a contar com van e equipe — e a realizar mais apresentações. A agenda ficou realmente puxada. Eles exemplificam citando um sequência em que tocaram em Passo Fundo na quinta-feira; Itapiranga (SC), na sexta; São Miguel do Oeste (SC), no sábado; Ivoti (RS), no domingo; e Videira (SC), na segunda.
No fim de 2022, o Rosa’s gravou um DVD com público, Ao Vivo em Nova Petrópolis. O registro foi disponibilizado em agosto deste ano. No audiovisual, a banda traz composições próprias e covers regionais, nacionais e internacionais (de Queen a Baltimora).
Mas antes, uma glória: em agosto do ano passado, Rosa’s lançou o single Vamos Dançar. Três meses depois, a música foi a segunda mais tocada nas rádios do Brasil, no gênero pop rock, conforme a plataforma Audiency.
— Foi o melhor dia das nossas vidas — celebra Nando. — A música foi escalonando. Primeiro, chegou a ser a mais tocada do Estado. Depois, na região sul. Começamos a ligar para rádios, botar a mão na massa. Até que o sol nasceu melhor num dia.
Decidimos que o Rosa’s sempre vai ter uma causa beneficente
NANDO ROSA
Vocalista da Banda Rosa's
Com Vamos Dançar, a banda firmou uma parceria com a Federação Estadual Associação Pais Amigos Excepcionais (Feapaes/RS): destinou os direitos autorais arrecadados com a música, nos primeiros seis meses, para a entidade – foram repassados R$ 3.687,82 em agosto deste ano.
— A gente sentiu na pele como é importante ajudar e ser ajudado. Decidimos que o Rosa’s sempre vai ter uma causa beneficente — diz Nando.
Para movimentar as redes sociais, o grupo acumula iniciativas. Um exemplo é o POD Rosa’s, programa de entrevistas no canal do YouTube da banda. Também há palestras-show, em que realizam apresentações ao lado de especialistas para trabalhar um tema específico, e atividades beneficentes, como a Copa Rosa’s, com jogos de futebol contra outras bandas. Esses confrontos vão ao ar no YouTube e buscam arrecadar fundos para instituições de necessitados.
Bailão e autoajuda
A Rosa’s se define como uma banda de pop rock. Porém, em seus shows, o grupo flerta com diferentes sonoridades, podendo ir da bandinha ao pagode — similar ao que o Barbarella já promovia.
Nando assegura que uma apresentação da Rosa’s é alto-astral, em clima de festa eclética. Exemplifica que, para a banda, é natural puxar uma música do Baitaca com distorção. Cita que, se percebem que o público “está para a folia”, depois de um rock, entra o clássico Cheia de Manias, do Raça Negra.
— É uma peculiaridade que a gente tem. Nos despimos de preconceitos. Não temos medo de tocar estilos regionais, e o rock costuma ter medo disso. Estamos lá apresentando alguma música e, do nada, pego o trombone e tocamos uma música de Oktoberfest, só que roqueira. No Interior, isso é muito forte. É um bailão com rock, um troço meio louco — tenta definir Nando.
Consequentemente, a estética e o som apresentado pela banda nos shows podem embaralhar a percepção de algumas pessoas. Uma pergunta costuma se repetir para o Rosa’s: o que vocês são?
— Às vezes, a gente para em posto de gasolina e nos perguntam: vocês são roqueiros, né? Isso com certeza (risos). Mas se tu for a um show nosso pode ficar meio confuso. Acho que o rock and roll é meio assim — reflete o vocalista.
O certo é que a Rosa’s aplica uma lógica de banda de bailão ao pop rock, tanto na agenda quanto em sua organização e empreendedorismo. Por conta dessa alma de baile, o grupo é chamado pelos clubes e salões de bailão para se apresentar. Também é comum ver o Rosa's em festas, feiras e demais eventos pelo interior gaúcho, catarinense e, às vezes, até paranaense.
— Nós todos vivemos em bandas de bailão antes da Rosa’s. Temos no nosso DNA o que acontece nesse universo, e a gente trouxe isso para o pop rock — resume Nando.
Em suas músicas autorais, a Rosa’s procura resgatar uma sonoridade oitentista, apresentando influências de RPM e do synth pop, com uso de batidas eletrônicas à la Roxette. A guitarra tem sua inspiração Guns N’ Roses, e o teclado, no Van Halen.
Como relata Giu, que também é o produtor, houve quem desconfiasse da premissa oitentista. Contudo, eles prezam por essa identidade.
— Eu ouvia de amigos: “Bá, Giu, vocês estão num estilo anos 1980, e tem tanto músico sertanejo, que é o forte hoje, faturando grana” — expõe o tecladista. — Mas é a nossa marca. Buscamos uma sonoridade para as pessoas automaticamente pensarem ao nos ouvir: essa é a banda Rosa’s.
Em relação às letras, o grupo procura trazer mensagens positivas. Há baladas românticas, como Girassol e Devolva Meu Coração, além das animadas Vamos Dançar, Lendas de Amor e A Energia Ficou, mas a autoajuda permeia boa parte do repertório.
A autoexplicativa Esperança diz que “com fé, com amor, tudo vai passar”. A gratidão está em Obrigado, que agradece “por cada flor ou cada pedra em meu caminho”. Parceria com a banda Pandora, Abre os Olhos para Sonhar prega: “Viva o agora com emoção”, “não basta sonhar, é preciso viver” e “diga sim para sua vida”. Nando crê que as temáticas da autoajuda foram incluídas sobretudo por conta da pandemia.
— Fazíamos músicas pensando nos outros, mas acho que era para nós mesmos (risos) — diverte-se o vocalista. — A gente estava meio mal.
Em novembro, a banda lançou o single O Mundo Precisa de Rosas, que dá título ao novo EP. As seis faixas do álbum serão lançadas mensalmente. Cada uma será acompanhada de um clipe. Para 2024, o grupo deve gravar um novo DVD, na 25ª Kartoffelfest — a tradicional festa da batata de Santa Maria do Herval, no Vale dos Sinos. Ao mesmo tempo, a Rosa’s seguirá sonhando, como destaca Nando:
— Temos sonhos grandes. Há três degraus que queríamos subir: Planeta Atlântida, Rock in Rio e carreira internacional.