Entre os mais de 70 nomes que se apresentam no Rap in Cena 2023, realizado no sábado (28) e no domingo (29) no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho (Harmonia), há muitos que cresceram com o trap. São artistas como Veigh, Wiu, L7nnon, MC Cabelinho, Kayblack, Poze do Rodo, Sidoka, Filipe Ret, Bin, enfim, a lista é longa.
Com origem na década de 1990, no sul dos Estados Unidos, o subgênero do rap se caracteriza por uma batida lenta e arrastada, texturas eletrônicas e uso de sintetizadores na voz. As letras, costumeiramente, abordam temas como superação, ostentação, sexo e drogas.
No Brasil, o trap começou a eclodir nos anos 2010. Aos poucos, o subgênero se aproximou bastante do funk, mas também transitou por outros gêneros nacionais como pagode e até sertanejo. Aliás, embora ainda não desbanque o sertanejo, ano após ano o subgênero vem numa crescente nas plataformas digitais, tendo sua base no público jovem.
Em 2023, sucessivos lançamentos de nomes como Kayblack, Matuê e Cabelinho alavancaram ainda mais o trap no país. Em maio, Veigh lançou a versão deluxe de Dos Prédios, que figurou no topo do Spotify Global como a melhor estreia mundial da plataforma de streaming.
Natural de São Paulo, Thiago Veigh tem 22 anos e já acumula hits como Novo Balanço, Engana Dizendo que Ama e Vida Chique. No sábado, era uma das atrações mais aguardadas pelo público. Para ele, ainda há muitos novos nomes para despontar no trap.
— Tudo que a gente faz hoje em dia funciona como primeiro. Tudo que a gente faz ainda é muito novo — analisa Veigh. — Aqui no Brasil ainda há muitas coisas que precisam ser feitas. Tudo que a gente faz é pensando no novo porque a gente vai marcar por aquilo ali. As outras gerações que virão vão se espelhar em nós.
Veigh ressalta que seu foco no trap é construir novas sonoridades:
— Eu quero inovar sempre, mais e mais, buscar muita referência de fora e misturar também. Gosto de adicionar um pouco do sal brasileiro.
De Fortaleza (CE) vem Vinicius William Sales de Lima, mais conhecido como Wiu, outro nome ascendente do trap. Ele nasceu em 2002, quando os Racionais MC's, que fecharam o Rap in Cena, já haviam lançado seus três icônicos álbuns.
Com sucessos como Vampiro, Felina e Coração de Gelo, o trapper se notabilizou por versar sobre romance, algo que marca Manual de Como Amar Errado (2022), seu álbum de estreia.
Ele ressalta que, dentro da cena do rap, sempre foi muito comum o espelhamento nas tendências de fora:
— O que o rap americano traz nas tecnologias, nas modas, nos trends sempre foi nossa referência desde o começo. Mas a gente queria ver onde poderia chegar com essa estética.
Para Wiu, o que lhe atraiu ao trap é o teor dos assuntos trabalhados no subgênero, com autoestima e moda. Mas, especialmente, expressar a ascensão.
– Tenho uma música antiga que fala que fazer trap é muito mais que ter grana, mais que usar droga no fim de semana, saber que você veio de baixo e saiu da lama – cita. – Trap me deu esperança. Foi onde vi que poderia mudar minha realidade e me expressar.