Em um debate com políticos conservadores nesta segunda-feira (27), o tenor Andrea Bocelli criticou a forma como o governo italiano lidou com a crise do coronavírus. Ele disse que se sente humilhado por conta da quarentena recente no país e pediu que as pessoas desobedeçam as regras em vigência.
— Aceitei esse convite, mas sou distante da política. Durante o lockdown, tentei me identificar com quem tinha de tomar decisões difíceis, mas depois as coisas não andaram bem. Conforme o tempo foi passando, não conheci ninguém que tivesse ido para a UTI, então por que essa gravidade? — disse Bocelli.
Segundo o tenor, ele se sentiu "humilhado e ofendido" pela proibição de sair de casa. Durante a quarentena italiana, que vigorou em âmbito nacional de 10 de março até o início de maio, as pessoas só podiam sair na rua por motivos essenciais.
— Admito que violei a proibição pois não achava certo ou saudável permanecer em casa com a minha idade — acrescentou Bocelli, que ainda lançou um apelo pela reabertura das escolas, que encerraram o ano letivo, em junho, com aulas a distância, mas voltarão a receber os estudantes a partir de 14 de setembro, quando começa o próximo período.
Os comentários do astro da música clássica surpreendem, já que ele teve covid-19 e até doou plasma sanguíneo para uma pesquisa. Em abril, no ápice da pandemia na Itália, o tenor foi um símbolo de união nacional, quando cantou na Catedral de Milão vazia no domingo de Páscoa, em uma performance solo transmitida ao vivo.
Negacionismo
O debate do qual Bocelli participou foi organizado pelo senador Armando Siri, do partido de extrema direita Liga, e pelo deputado conservador Vittorio Sgarbi, que não pertence a nenhuma legenda. Apesar de a Itália ter sido o epicentro do coronavírus e deixado mais de 35 mil mortos, o debate foi marcado pelo tom negacionista dos envolvidos.
Sgarbi chegou a citar um suposto relatório do governo da Alemanha que diz que o coronavírus é um "alarme falso global". O documento reflete apenas a opinião de um único funcionário do Ministério do Interior e não é oficial. O deputado ainda afirmou que "não é verdade" falar que o Brasil vive uma emergência – o país teve entre 19 e 25 de julho a pior semana desde o início da pandemia, com 319,4 mil casos e 7,7 mil óbitos em sete dias.