Em quarentena na fazenda da família, em Júlio de Castilhos, na região central do Estado, a cantora Shana Müller decidiu aproveitar o momento para retomar alguns projetos que estavam parados. Ao notar em seu computador oito músicas que nunca foram lançadas, ela pensou: por que não? O resultado está no EP Canções Guardadas, lançado na última sexta-feira (15), nas plataformas digitais (Spotify, Deezer, YouTube e iTunes).
— Na loucura do dia a dia, a gente acaba priorizando o que é mais urgente. Prometi a mim mesma que iria finalizar algumas coisas paradas, e uma delas era o que fazer com essas músicas — conta Shana, também apresentadora do Galpão Crioulo, da RBS TV.
Segundo a cantora, as faixas do EP são registros realizados desde 2014, gravados em oportunidades específicas. Por exemplo, músicas que entraram no repertório de show, que estavam ensaiadas com a banda e gravadas em estúdio, mas ficaram na fila. Um desses casos é Como Dos Extraños, realizada em parceria com o virtuoso violonista Yamandu Costa.
Aproveitando uma vinda do instrumentista a Porto Alegre, Shana gravou com Yamandu sua versão da música, que foi eternizada na voz da argentina Mercedes Sosa. Um clipe chegou a ser filmado para o registro, mas o material ficou pelo caminho.
Canções Guardadas é o primeiro lançamento inédito de Shana em quatro anos – o último registro da cantora foi o DVD Canto de Interior. Trata-se de um trabalho eclético, com a cantora passeando por ritmos como a milonga, o tango, o vanerão e o xote, além de cantar em espanhol e trazer suas influências latino-americanas.
— Talvez esse seja o primeiro trabalho que eu consigo mostrar todas as minhas facetas do que eu gosto de cantar, desde aquela música de violão e voz, que é para ouvir tomando vinho numa roda entre amigos, até um vanerão que é uma música super gaúcha — destaca.
Entre as parcerias do álbum está a música Ranchinho, de Gabriel Selvage e Roberto La Maison. Na faixa, Selvage assume o violão, enquanto os arranjos ficam por conta de Vagner Cunha. La Belleza, canção que também foi interpretada por Mercedes Sosa, conta com Paulinho Fagundes no violão. Na delicada e intimista Recado no Vento, ela divide os vocais com o cantor e multi-instrumentista Zelito.
Para a faixa O Descobrimento do Rio Grande, Shana contou com os seus velhos companheiros do projeto Buenas e M'Espalho – Érlon Péricles, Cristiano Quevedo e Ângelo Franco. Aliás, outra iniciativa da cantora nesta quarentena é lançar um CD e DVD de um show do quarteto gravado em 2012, no Opinião, em Porto Alegre.
Celebrando cinco anos de existência do projeto, a apresentação contou com nomes como Humberto Gessinger, Esteban Tavares, Luiz Carlos Borges e Renato Borghetti. Segundo a cantora, o áudio do show chegará às plataformas de streaming em breve, assim como o vídeo da apresentação estará disponível no YouTube.
Buenas e M'Espalho é um projeto marcado por mesclar a música regionalista com sonoridades contemporâneas. O que não deixa de se refletir, a certo modo, em Canções Guardadas.
— Por mais que elas não tenham sido pensadas para serem lançadas juntas, elas tinham unidade quem me representa enquanto artista. Que é essa regionalidade gaúcha e brasileira, buscar o sotaque e ritmos latino-americanos. Essa reunião de músicas é um resumo de quem é a Shana cantora — define.
Polivalente
Realizada no período de distanciamento social, a capa de Canções Guardadas foi produzida inteiramente por Shana: maquiagem, cabelo e fotografia. Por estar com os pais, que são idosos, na fazenda, ela preferiu evitar levar um fotógrafo para produzir as imagens ou ir até um. Não queria colocá-los em risco.
— Já estou super na prática de fazer tudo sozinha. Tenho gravado Galpão Crioulo em casa. Me equipei com algumas coisas, comprei um tripé e um celular que tem uma câmera boa — conta Shana. — Fiz um book só no tripé e timer. Baixei um app e fiz a capa no celular. Produzi tudo sozinha, pela necessidade. Acho que essa pandemia está ensinando bastante para gente se virar.